PLEBE RUDE
Era uma vez um reino sul-americano que media sua grandeza pela extensão das terras e que tinha esperanças de ser o futuro do planeta. Lá, as leis eram impostas com violência, e uma idade de trevas ocorreu sufocando tudo o que fosse criativo e espontâneo. Um dia, à margem da corte, jovens plebeus começaram a se reunir e articularam um movimento musical que foi-se fortalecendo a cada ano e, um belo dia, brotou para todo o reino, contando histórias daquelas épocas sombrias, que, mesmo aparentemente soterradas, ainda refletem nos dias que correm. Essa é a história da Plebe Rude, que é também a história do rock de Brasília e um pouco do novo rock brasileiro. Quando o movimento punk explodiu na Inglaterra, nunca se imaginou que fragmentos dessa explosão chegassem até o Brasil (mesmo alguns anos depois) e indiretamente provocassem um renascimento, trazendo uma nova estética para o quase invisível rock brasileiro. De um modo ou de outro, as bandas que hoje dominam o mercado trazem um vestigiozinho que seja do punk. A Plebe Rude e 90% das bandas de Brasília são filhas legítimas. Era 1979 e o país estava prestes a sair de seu eclipse militar. Orbitando em volta do poder, dezenas de jovens entediados nada tinham a fazer, a não ser ouvir discos e ler revistas que traziam a grande nova do punk rock e lhes davam uma maior alegria de viver. Como a informação lá chegava primeiro, logo surgiram duas das primeiras bandas punks do país: Blitx 64 e Aborto Elétrico. Dessas derivaram as demais, como a Plebe Rude, nascida em 81 de pedaços da Blitx e da Metralhas. Um ano depois, da semente da Aborto Elétrico nasceria a mais famosa delas até o momento, a Legião Urbana, que estreou abrindo um show da Plebe em Patos de Minas, MG. A época, 82, era de eleições, e após o show todos da Plebe foram em cana por causa da música "Vote em Branco", considerada subversiva. No mesmo show, a Legião cantou "Que País é Esse", atualmente usada na abertura de seus shows, e que provavelmente não será gravada. Se já não era muito fácil ser roqueiro naquela época, punk então era pior ainda. As primeiras apresentações da Plebe, assim como das demais bandas do Planalto, eram shows-relâmpago em parques, praças, portas de bar ou onde houvesse uma tomada. Plugavam-se os instrumentos e tocava-se o tempo que desse até a chegada da polícia. Zás! Se não fosse rápido, eles levavam instrumentos e pulseiras de tachinhas. Nessa época a Plebe já tinha a formação, que dura até hoje, que é a seguinte: Gutje na bateria e vocais; André X no baixo; Philippe na guitarra e vocais; e Jander na guitarra base e vocais. A única diferença eram as plebetes, Ana & Marta, que faziam os backings, como em "Sexo & Karatê", que na versão em vinil é feita por Fernandinha, da Blitz. Em 83 eles resolveram conquistar o país e começaram se apresentando em São Paulo, no extinto bar Napalm, para logo em seguida chegarem ao Rio abrigados pela lona do Circo Voador. Geralmente as apresentações eram divididas com a Legião e a Capital Inicial, dando pra sacar que, mesmo as três sendo do mesmo local, mantinham características distintas. A Legião passava um ar sério, a Capital mais refinada e a Plebe, energia pura. Era a banda que fazia a rapaziada pular mais e mais alto. Todo mundo podia subir no palco, e às vezes Philippe largava a guitarra e mergulhava na platéia. Uma celebração. Mas até quando esperar? As outras bandas do Planalto, que começaram juntas ou vieram após, estavam todas gravando, e a Plebe, nada. Eles não queriam fazer disco independente e preferiram que o momento chegasse sem precipitações nem participações em paus-de-sebo. Enquanto isso, foram apurando o som em dezenas de shows nos mais variados locais. Então um dia a boa notícia pintou: A EMI-Odeon ia lançar um projeto de mini-LPs só com bandas estreantes, e a Plebe estava incluída no lance, por méritos próprios que correram de boca em boca. Em janeiro deste ano finalmente veio ao mundo "O Concreto Já Rachou", um disco de estréia com punch e produção impecável a cargo de Herbert "Paralamas" Vianna, que vai longe.
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