Revista Bizz

Sossega Leão


SOSSEGA LEÃO!

Se você vivesse no início dos anos 5O, vestiria seu terno de linho branco, encontraria sua namorada produzida com um tomara que caia de bolas azuis e iria a algum baile dançar ao som de Glen Miller e da última moda, os ritmos do Caribe, O baile seria animado por orquestras como as de Severino Araújo. Sílvio Mazucca ou Luiz Arruda Paes.
Hoje, nos anos 80, você dificilmente sairá com um terno de linho branco e provavelmente, sua namorada não estará vestida com um tomara-que-caia de bolas azuis. Mas vocês podem dançar rumba, mambo, salsa e bolero se forem aos shows de uma banda que há dois anos espalha os sons do Caribe pelo Brasil: o Sossega Leão.
A banda surgiu em 83, quando Skowa. que em 77 já tinha formado e dissolvido um outro Sossega Leão, montou um grupo para animar a Noite do Caribe. promovida pelo Sesc Pompéia, em São Paulo. De lá para cá o grupo passou a animar bailes com um repertório que incluía sucessos antigos da música centro-americana, reggaes e até Carlos Santana, já que um dos guitarristas Marcelo Tuba, é um aficionado de Santana e não deixa de encaixar solos roqueiros nas músicas.
A gente passou estes dois anos informando o público sobre a existência deste som", lembra o baixista e vocalista Skowa. Apesar de já ter sido moda há trinta anos, a música caribenha foi propositalmente colocada de lado pelo bloqueio econômico e cultura promovido pelos EUA após a Revolução Cubana. De modismo, passou ter uma presença limitada a uma outra faixa dos discos.
O Caribe só foi retomado de uma forma mais forte há dez anos, quando a salsa, nome genérico dado à música caribenha atualmente, passou a fazei sucesso nos EUA e na Europa. E o sucesso continua até hoje. A salsa, feita principalmente por cubanos e porto-riquenhos radicados em Nova York, é uma mistura do mambo e da rumba com o jazz moderno.

Mapa musical
Mas qual a diferença entre estes sons que vêm do Caribe "A América Central teve uma colonização muito variada e cada região criou sua própria música", lembra Guga Stroeter (vibrafone).
Das colônias espanholas vieram os ritmos mais conhecidos. No México surgiu o bolero, e em Cuba, a canção habanera e a rumba, que misturada ao swing deu no mambo e, ao twist, no chá-chá-chá.
O beguine e o merengue vieram das colônias francesas. Nas inglesas, surgiram o calipso das Ilhas Virgens e os jamaicanos ska e rêggae.
Tudo isto, e mais alguns outros ritmos, sempre fizeram parte do repertório do Sossega nestes dois últimos anos. E continuará no que a banda decidiu chamar de "nova fase". Mas com um detalhe: sofrerá algumas modificações.

Arrigo Barnabé


ARRIGO BARNABÉ - UM OUTRO BRASIL NA EUROPA

Com grande apoio da imprensa francesa. Arrigo Barnabé conseguiu lotar recentemente por uma noite, a New Morning mais importante casa de jazz de Paris.
Valeu. O jornal Le Matin qualificou seu som de surrealismo desarticulado´´. A revista especializada parisiense Jazz Hot elegeu Tubarões Voadores um dos dez melhores discos de 1984, colocando o músico de Londrina ao lado de gente consagrada como Miles Davis e o grupo Weather Report.
Com teatralizações, performances e ajudada pela voz de Vânia Bastos, a banda, exibindo uma música rica e estudada, conseguiu superar a barreira da linguagem.
Vestindo a habitual capa escura. com a qual circula pela noite paulistana, Arrigo Bamabé combina com a fria primavera européia. Entre queijos e vinhos, o autor de Clara Crocodilo e Tubarões Voadores fala de seu trabalho - tido pelos europeus como uma mistura de música erudita contemporânea e rock e de sua excursão européia.
- O fato de você Ter vindo para a Europa com tudo pago, a convite da prefeitura de frankfurt, deu mais espaço para você experimentar?
- Claro ! Eles não dependem do retorno.
- Como você acha que os europeus recebem sua música?
- Eles falam as coisas mais esdruxulas. É difícil pra eles entender a sincopa e minha musica tem muita sincopa. aquela coisa rítmica. Eles me perguntam: "Mas este som é brasileiro? Porque, para eles, brasileiro é o que tem a forma, o gênero. Eles entendem o samba, o baião, o choro, o frevo. Agora. se você pega elementos rítmicos do samba e coloca num compasso diferente eles acham que não é brasileiro. E aquela coisa do estereotipo. E isto causa um pouco de dificuldade.
- Dentro da divisão de tendências que se faz na Europa. Seu publico é mais de jazz ou de rock?
- Eu não sei. Tenho a impressão de que o público de rock tem entusiasmo maior e o de jazz uma amplitude de visão maior. Mas o cara que curte o jazz vai abrindo ate um certo ponto e pára mesmo. Como os caras que acham que o Miles Davis não faz mais jazz. O público de rock quando abre, abre mesmo. Eu acho que quem pode me curtir mais é o pessoal ligado em jazz. mas o público de rock é uma gente interessante.
- Você aqui circula no anonimato. No Brasil a fama te incomoda?
- Incomoda. Se eu estou tocando piano, o vizinho de baixo já sabe quem é. Aí eu tenho que tocar legal. não posso incomodar o cara.
- O que você leva daqui para o Brasil?
- Se Deus quiser. um computador.
- E um novo caminho?
- Vai ser um instrumento para facilitar a composição. Com ele eu corto, apago, reescrevo, ganho tempo.

Titãs Na TV

TITÃS NA TV

30/4 - Perdidos na Noite
No camarim, próximos a Eduardo Araújo, os oito Titãs são abordados por Lúcia. fundadora de seu fã-clube. Distribuição de chocolates e chicletes para todos.
No palco, fala o imenso apresentador Fausto Silva: Um programa ensaiado no ar". É verdade, O monitor volta a pifar, um amplificador está queimado e a produção perdida. "Acertou o som aí? Ao vivo, Titãs no Perdidos na Noite!! Primeiro lugar no concurso de marionetes!"
E entra no ar uma raridade no circuito televisivo: eles tocam ao vivo mesmo, sem playback. De uma só enfiada: Autonomia" e "Televisão" (do novo LP) mais "Toda Cor" e Sonífera Ilha". Apesar da aparelhagem não corresponder e mesmo com as vaias de alguns metaleiros presentes - são muito comerciais", é a queixa de um deles - a platéia canta com Paulo a última música.

2/5 - Porque Hoje É Sábado
O grupo chega e vai ´fritar" Ou seja. esperar pela gravação na lanchonete. Lá. um dos produtores do programa pede pela presença de um Titã até o final, quando haverá um debate com a sexóloga Maria Helena Matarazzo.
Ao começar a gravação, Branco é o único a deixar a lanchonete para sentar-se, no estúdio, ao lado do veterano cantor Pery Ribeiro. Os outros sobem mais tarde e flagram, através de um monitor, o diretor de pornochanchadas Davi Cardoso dissertanto sobre pornografia e malufismo.
Charles vai dublar de pandeiro na mão: "Aqui o playback é muito baixo e a bateria acaba soando mais alto que a música.
Um apresentador formal, o sr. J. Silvestre: "O sucesso de hoje aqui está. Nossos aplausos para o grupo Títãs". Entra o playback de "Toda Cor" e a pequena platéia se anima.
E o tal debate sexológico´? Fugiram todos.

3/5 - Hebe Camargo
Lá vem o playback de "Toda Cor". É a última vez que fazem esta música na TV. Mais uma vez, o baterista Charles reduz o arsenal para um pandeiro.
Enquanto isso, Branco canta coladinho na apresentadora: "Eu preciso de você agora/ por favor meu bem, não vá embora". As gargalhadas de Hebe estão alguns decibéis acima da música, o que provoca alguns gritos da produção: "Arranca o microfone dela!!!"
Até a última nota, o auditório engrossa o coro dos Titãs. Quando eles já deixaram o palco, a apresentadora ainda está tomada por seu acesso de riso: "Vocês viram só que aula de ginástica? Muito engraçado".

26/5 - Cassino do Chacrinha
A Kombi da produção vem buscar o grupo no hotel. Antes de entrarem no teatro, clic - uma pausa para fotos com as fãs. Lá dentro, são submetidos a uma longa sessão de maquiagem: rostos brancos e batom vermelho compõem um estilo new circense.
Ao brado do sr. Abelardo Barbosa - "Titããss!!" -´ soltam o playback de "Insensível". O volume ensurdecedor recebe ainda a contribuição de uma sirene, dos berros da claque e da platéia. Longe do rebolado das chacretes, um assistente de câmera está desesperado para conseguir enquadrar todos os oito em sua mirabolante coreografia.

IRA!


CONTRA O SOM DESCARTÁVEL

Antes era Ira. Agora é Ira! A exclamação serve para sinalizar o fim de uma fase e o começo de outra. Não foi à toa que batizaram seu LP de Mudança de comportamento.
Da formação que gravou o compacto ´Pobres Paulistas"!´ ´Gritos na Multidão" em 83 e que atraiu já um grande número de seguidores, restam o vocalista Marcos "Nasi" Valladão e o guitarrista Edgard Scandura.
Edgard é um capitulo a parte. Instrumentista polivalente, já foi baterista das Mercenárias, é autor da maior parte das musicas do IRA! É um backing-vocalista supremo e mais, é considerado por muita o grande guitarrista do rock no país.
A parceira inseparável de Edgard é uma velha Giannini Stratosonic, com um Who escrito e esferográfica juntos aos captadores. Nem no estudio ele troçou sua Gianola (como a chama carinhosamente) pelas Fender, Gibson e Ibanez descoladas pela produção. E o resultado você ouve no disco
Os rostos novos da banda são o ;-baterista André (ex-Titãs) e o baixista Gaspa (ex-Cabine C e Voluntários da Pátria). Perfeitamente sintonizados com o lema da banda - segundo Edgard, "tudo menos uma música passageira, descartável".
Nasi. que ganhou este apelido na escola (nada a ver com a suástica), arremata: "Só se vende e divulga abobrinha. Até parece caretice fazer música séria no Brasil".
Durante um tempo, desinformados em geral armaram uma reputação punk para a banda, cujo nome remete à sigla que identifica o Exército Republicano Irlandês. O grupo na verdade se lançou no Festival Punk da PUC de São Paulo, em 81. A influência está lá, numa temática com poesia e sem miséria", como define Edgard. Mas não é predominante. No som do Ira! entram todos os estilos.
O show de lançamento do LP Mudança na danceteria Pool de São Paulo reflete esta mistura. Requintada ambientação visual psicodélica. Utilizando o velho efeito da projeção de luz através de uma mistura de água e óleo, o artista plástico Antônio Peticov transportou corações e mentes presentes para meados dos anos 60. Exatamente o terreno onde anda a influência básica da banda. O terreno dos mods.
Aqui, um parêntese histórico. Os mods, abreviação de modernistas, eram uma das tribos que tomaram a. Inglaterra dos anos 60. Deixando de lado modelitos e corte de cabelo, o essencial fica justamente na ânsia de atacar todos os estilos.Passaram pelo blues,pelos ritmos negros como funk e ska, mas bastava virar moda e partiam para outraMod é a antimoda. Mod é estilo, como demonstra Paul Weller e seu Style Council.
Não que caiba no Ira! Porém , o rótulo de grupo mod paulista, como querem alguns. O grupo acha que desinformação, o besteirol generalizado, fazem parte de um horizonte negro que está se desanuviando. Aponta como grande responsável pela mudança na qualidade de informação na música o Rock in Rio. "Ele afinou os ouvidos", diz Nasi, ressaltando que "os grupos estrangeiros entraram com muito mais garra e profissionalismo."
Estes ouvidos afinados estão proliferando. E o que o Ira! sente pela receptividade do público desde que, no começo do ano, a banda esquentou as turbinas para o LP tocando em danceterias do Rio, São Paulo e Minas Gerais. Eles preferem, porém, um palco de teatro. Chegaram até a tocar no Museu de Arte de São Paulo, apesar da resistência: "Tivemos mil dificuldades para fazer o show. mas insistimos porque é um espaço que precisa ser ocupado", afirma Nasi. Ele só esqueceu de contar que foi o maior sucesso.

Biquini Cavadão - No Porão da Bizz



Se numa das tardes preguiçosas de outono você tiver esbarrado no rádio com um grupo chamado Biquini Cavadão, das duas uma: ou você jogou longe a caixa de chocolates e tratou de aumentar o volume aos berros de "que negócio é este!?" ou você correu ao telefone para marcar uma consulta urgente com o otorrinolaringologista, certo de estar sendo vítima de um caso agudo de alucinação aural.
Nenhuma das alternativas acima. O Biquini não é piada, nem alucinação, apenas um dos quintetos mais afiados que surgiram na cena carioca nos últimos meses. Misturando teclados tecnomultitexturizados, harmonias pop remanescentes dos Beatles e letras incisivas, o Biquini é um rockshake peculiar, resultado da dieta musical ultra-eclética a que foram submetidos Bruno (vocais), Sheik (baixo), Miguel (teclados), Alvaro (bateria) e Luis Carlos (guitarra). Nutridos de muito samba, música clássica, Roberto Carlos, tecnopop inglês e alemão e bandas da nova geração de rock brasileiro, o Biquini forjou uma sonoridade única.
Há dois anos o Biquini Cavadão não era o Biquini Cavadão. "A gente ficava debruçado no dicionário", lembra Bruno, "tentando achar nomes diferentes e acabava não achando nada de bom. O grupo quase se chamou Hipopótamus de Kart, ou, então, Lambrodocidus Angelibarba (o nome de um peixinho abissal), até que um amigo (iniciais:H.V.), vendo aquela confusão toda, disse: ´Ah, põe Biquini Cavadão e acabou o assunto´. E ficou sendo Biquini Cavadão. Eu fui contra, achava bobo, mas todo mundo gostava e acabei gostando também."
"Tédio", compacto de estréia, é uma bela crítica ao marasmo das jornadas escolares e um claro flagra do estado de espírito do estudante, em particular, e do jovem, em geral. Parafraseando Herbert Vianna, que emprestou guitarras e idéias à gravação de "Tédio", atrás do bom humor do Biquini tem uma seriedade legal.

Capital Inicial No Porão da Bizz


"A Europa tá um tédio, vamos transar com estilo. Nós só temos um remédio, descendo o Rio Nilo." E um trecho de "Descendo o Rio Nilo", música do Capital Inicial, primeira banda, depois do Legião Urbana, a sair do Distrito Federal para uma carreira nacional. E Brasília, também está um tédio? "Tá, tudo tá", acha o vocalista Dinho.
Qual o remédio? No final dos anos 70, um grupo de amigos apaixonados pelo punk inglês resolveu fazer alguma coisa" em Brasília e colocou em prática o lema Do it Yourself (em português, Faça você mesmo). Saiu tocando pelas ruas da cidade.
O movimento punk inspirou várias bandas brasilienses, mas o Capital foi a primeira a deixar a cidade. Está em São Paulo há seis meses.
O primeiro show da formação atual da banda foi em julho de 83 na UnB. Dias depois estavam no Rio, junto com o Legião Urbana, abrindo para Lobão. Na semana seguinte tocavam no Sesc Pompéia, em São Paulo.
Em 84 o grupo tinha duas fitas de demonstração (demo) na Fluminense-FM de Niterói. A CBS ouviu, incluiu o grupo na coletânea Os Intocáveis e lançou o compacto.
O grupo pensa num LP ainda para este ano. Até lá, a meta é fazer shows, cuidar do repertório e "ganhar experiência", diz o baixista Flávio.
"Formamos a banda sem saber tocar", lembra o guitarrista Louro. ´Mas compensamos com sangue", emenda o baterista Fê.

RPM



´PROGRESSIVO É A MÃE!´

Logo após ser lançado, o primeiro LP do RPM se tornou um dos maiores sucessos do ano. As críticas só elogiaram. "De acordo com dados não oficiais", como afirma o tecladista Luís Schiavon, vendeu sete mil cópias logo na primeira semana.

O disco é bem variado e tem excelente trabalho de produção. O tecladista diz que sua banda "é rica porque cada um teve uma experiência diferente".
O grupo usou bem estas diferenças, experimentando efeitos e utilizando ao máximo os recursos técnicos de gravação. Gravou bateria eletrônica no corredor do estúdio, para chegar ao som adequado; gravou guitarra com velocidade dobrada e até um quarteto de cordas, com violino, cello, baixo e viola sintetizados.
Sintetizador é uma coisa que Luís conhece. Além de treze anos de convivência com os teclados em conservatório, já tocou muito tecnopop. Até teve uma banda com Lucas Shirahata, a Solaris, que apenas uma vez colocou em palco seus onze sintetizadores.
O tecnopop e ainda o progressivo permeiam o LP, da dançante "Louras Geladas" à lenta e acústica "A Cruz e a Espada" (com veteranos como Roberto Sion na clarineta e o produtor do disco, Luiz Carlos Maluly, no violão). Mas o grupo rejeita com veemência certas qualificações: "Já estou cansado desta história. É progressivo o escambau! O progressivo não teria uma bateria como esta nunca. Há só uma sofisticação de arranjo comum ao progressivo", protesta Luíz.
"Também não somos tecnopop", prossegue ele. "Meu conceito de tecnopop é o de uma coisa absolutamente apoiada no uso de instrumentos eletrônicos. Mas nós temos oito faixas com baterias do Paulo Pagni, dez faixas com o baixo do Paulo Ricardo e guitarra em todas."
Um dos pressupostos do RPM, define seu tecladista, "é a experimentação. A gente se permite testar". E se na música funciona assim, os sons vem acompanhados das boas imagens criadas por Paulo Ricardo. Um ex-crítico de música, Paulo canta desde os sete anos e faz poesia desde os treze. Cansou de escrever sobre a música dos outros e, depois de uma viagem pela Europa, chamou Luís e fez o RPM. A estréia se deu em maio do ano passado, na abertura da apresentação do Ira! Na época o grupo era formado por Luís, Paulo Ricardo e Fernando Deluqui (conhecido de Luís quando os dois acompanhavam May East). Na bateria estava Júnior, com seus quinze anos.
Paulo Ricardo gosta de poesia, de imagens: "Gosto de chamar atenção sobre coisas que estão acontecendo quando acho que elas são úteis. Gosto de palavras não usuais, como álcool, provocante butterfly, paiol de bobagens, Moscou, Nova York, Tel Aviv. São imagens."
Trabalhando com estas imagens, o RPM saiu do primeiro show para um mergulho no circuito underground paulistano.
Mas em outubro de 84 as coisas começaram a mudar. A banda mandou uma fita para a CBS e concorreu por uma vaga na coletânea Rock Wave. Conseguiu. E, de quebra, ainda foi aprovada para gravar um compacto.
Com o disco na rua, a banda passou a tocar por todas as danceterias do Rio e São Paulo. "Louras Geladas" ia aparecendo nas FMs. O outro lado do compacto, "Revoluções por Minuto", tropeçou na Censura e teve execução pública proibida. A Censura alegou incitação ao uso de drogas pelos versos "Agora a China bebe Coca-Cola/ aqui na esquina cheiram cola".
Em fevereiro deste ano o grupo apareceu em sua formação atual. Júnior tinha saído antes mesmo do compacto, gravado com computador rítmico. Enquanto em seu lugar Paulo Pagni, que já tocou numa banda de jazz-rock e foi professor de bateria.
Após meses com a mesma formação e com um hit nacional, a banda já pôde reconhecer com clareza o estado atual do rock e sua posição frente a ele. "O Brasil está descobrindo o rock. É uma coisa naciona", considera Luís. "Existem grupos nacionais. O que há são estilos diferentes".
Paulo Ricardo emenda, classificando alguns estilos: "O Roger do Ultraje é um explícito debochado. Já o Renato Russo da Legião Urbana é um explícito sério. Eu sou implícito, lírico. Gosto de coisas dúbias, como "Louras Geladas".
O RPM se considera um grupo de palco e pretende fazer um música que agrade tanto aos ouvidos underground quanto aos ouvintes de FMs e freqüentadores de danceterias. "Queremos conciliar o popular e o sofisticado. A gente sempre fica na corda bamba. Entre o brega e o não vendável", argumenta Luís.
"Há um ano", completa ele, "iriam rir da nossa cara. Agente tem que ocupar espaço. Tenho um pouco de bode deste pessoal que se julga o melhor e não vai a luta".

Luiz Antonio Melo Alguém Lembra?


RECEITA DE UMA RÁDIO DE ROCK

Montar uma emissora de rock é um pouco mais complicado do que ter uma meia dúzia de bons discos em casa, prontos para serem arremessados de um transmissor qualquer de um morro desses aí.
Mas fazer uma estação de rock envolve, basicamente, conhecimento,intuição e técnica em doses aritméticas. Não adianta possuir um desses elementos sem os outros. Só conhecimento musical não define se esta voz é melhor do que aquela para um programa. A intuição, por si só, provoca tolices e conduz à asneira, enquanto que a técnica, pura e simples, burocratiza até a mais tênue estupidez.
Uma rádio de rock que se preze não possui o chamado "listão", o que significa programação permanentemente renovada e dinâmica.
No Brasil, uma terra onde os conceitos sobre rock vão de um pólo ao outro como se tivessem ido ali comprar cigarros, construir uma estação específica significa esbarrar numa quantidade enorme de problemas. O mercado tem muito medo do rock, muito mesmo. A causa aparente é simples: rock exige conhecimento de causa e não só de números. O sujeito que está lá programando a última faixa do lado B de um disco irlandês tem de demonstrar firmeza e segurança, enquanto que no outro lado do mundo o publicitário responsável pela distribuição de uma determinada verba tem de entender de comportamento, música e excentricidades em geral para enfiar a tal emissora nos planos. Normalmente batido pela preguiça, ele desloca a verba para uma emissora de perfil mais fácil, mesmo que o retorno seja comprovadamente menor. É incrível, mas há produtos no mercado com nomes extraídos do rock que não são anunciados em rádio de rock. É incrível e triste.
Murros em ponta de faca estão no cardápio diário do profissional de uma estação de rock. Ele tem de conviver com uma gama enorme de misturas de ritmos e tendências musicais e com uma certa histeria internacional dos ouvintes. Os ouvintes formam feudos ou ilhotas de estilos e defendem aquilo como se fossem cisternas no Saara. Quando não ouvem um metaleiro, um vanguardeiro, um "sulisteiro" (de rock sulista), telefonam, escrevem e caem de pau. Como é impossível atender a todo reinado, a pancadaria reina.

Mil a zero
Reina infinita e bela, pois o mais espetacular de uma estação de rock é a resposta de seus ouvintes. Eles reclamam de pronúncia errada, faixa trocada, hora misturada, mas estão sempre ali, cravados no dial. participando. Acima de tudo, conhecem cada milímetro do que estão ouvindo e são incapazes de engolir qualquer tipo de forçação de barra, parta de onde partir.
As compensações são muitas e dão de mil a zero nas dificuldades. Especialmente porque quem faz rádio de rock sabe que está lidando com uma música que pulsa sem precisar dizer que pulsa e com uma audiência que detesta firulas, abomina a mediocridade de um linguajar bordado de gírias forçadas e não gosta que ninguém diga "dance", "pule","ei", que festa, isso tudo é rock´n´roll ". A audiência quer uma rádio bem feita. Rápida, objetiva, simples, sem essa de "eu sou mais eu, porque sei que David Bowie já foi um andrógino e você não". E o maior segredo de quem faz rádio de rock não é deter a maior discoteca do mundo, mas saber conjugar matéria industrial com pensamento, idéia.
Se mexer com rock já é bom, lidar com rádio de rock é melhor ainda. A impressão que temos ao colocar uma música no ar é de que nossas emoções estão sendo democraticamente divididas entre pessoas altamente intuitivas. O feedback é cheio de malícia e a grande vedete nesse tipo de emissora é e sempre será a música. Exemplo: a Eldo Pop, do Rio, já extinta, ficou no ar durante alguns anos sem locução. Os ouvintes tinham de partir para exercícios de pesquisa intermináveis para saberem o que estavam ouvindo.
Sem vedetismos e com muita verdade para dizer, uma rádio de rock não surge, chega; não morre, some. Ela lida com um gênero artístico forte, que mistura um monte de situações que transcendem a música, seguindo a trilha do rock. Ela deve chutar os modismos, procurar não opinar e tentar, sempre, não se defender com falsas delongas. Enfim, fazer uma rádio de rock está diretamente ligado ao bom senso profissional. Profissional com "P" maiúsculo.

Luiz Antonio Mello, 30 anos, é um dos fundadores da Fluminense-FM. Atualmente colabora para o Jornal do Brasil. o Planeta Diário e as revistas Playboy e Somtrês.

AKIRA S E AS GAROTAS QUE ERRARAM - NO PORÃO DA BIZZ


Uma banda com dois baixos e nenhuma guitarra. O vocalista berra, guincha, aciona um tape-deck e até desce do palco. Em uma música tocam três instrumentistas, na seguinte podem ser seis ou mais.
Há menos de um ano, quando Akira S e o vocalista e letrista Pedreira Antunes se conheceram, estavam com idéias muito próximas sobre música. Akira toca baixo desde 77, estudou piano, música erudita e eletroacústica, tocou samba, jazz, tecnopop. A única experiência de Pedreira em fazer música tinha sido uma banda bastante falada mas pouco ouvida, N.º 2. Apesar da disparidade de formação e experiências, as idéias de ambos giravam em tomo da utilização de tapes e, eventualmente, dois baixos. "Sem vícios guitarrísticos", segundo Akira. Edson X, baterista há seis anos, foi chamado em caráter provisório para a primeira apresentação (outubro de 84)e está lá até hoje.
O nome da banda foi pensado para o duo - sim, Akira S era o Akira, que nem é S, mas Tsukimoto, e "as Garotas que Erraram", no feminino e no plural, era o Pedreira Antunes. Mas tal nome revelou-se profético, e vieram as garotas propriamente ditas: uma baixista iniciante, também ex-N.º 2, Anna Ruth, nos teclados, e a mais nova aquisição da banda, Corina, que tocou piano na tenra infância e cantou em um grupo quando morava na Inglaterra. Bem, até agora elas não erraram.
"Tento aproveitar tudo que sei", diz Akira. "Tudo" é uma vasta gama, que vai dos eruditos contemporâneos à discothêque, detendo-se no rock e no funk, sem deixar o velho e execrado samba de lado: Akira vaticina que vai fazer com o samba o que aconteceu com o funk - "uma musica de gueto que se universalizou", nas palavras de Pedreira. E ele quem expressa a intenção teórica da banda: "Botar em curto-circuito os procedimentos do pop, quer os musicais, quer as letras, quer as performances de palco".

MERCENARIAS NO PORÃO DA BIZZ


Direto ao assunto. As Mercenárias são uma banda feminina que estreou há três anos, com um show-relâmpago de quatro músicas em um bar de São Paulo chamado Rosa Proibida. Visual inicial: roupas pretas e rústicas, punks sem adereços nem tintura nos cabelos. "Procurávamos engordar e enfeiar ao máximo, para que as pessoas vissem trabalho e competência em vez de menininhas bonitinhas", conta Sandra, baixo e backing vocal.
Tudo começou quando a vocalista Rosália apareceu com uma letra em inglês ("Trashland"). Com instrumentos emprestados, um amplificador "podre" e uma guitarra que desafinava a cada acorde tocado por Ana, resolveram fazer um trabalho sem influências além do mais cru minimalismo.
Cada música não costuma durar mais de dois minutos e seus arranjos compactos - alinhavados pelos backing vocals de Ana e Sandra -não têm lugar para firulas que ultrapassem fragmentações rítmicas.
No princípio, faltava a bateria. Edgard, guitarrista do Ira!, gostou tanto do som delas que se propôs a, provisoriamente, assumir a função. E assim, com um pandeiro preso a um banquinho (no papel de "caixa"), Edgard ainda chutava o que estivesse pela frente - no papel de "bumbo". Os pratos ficavam por conta do corrimão da escada. "Ai, que engraçado, eu não sabia disso", comenta Lou, a atual baterista. Antes ela era talvez a fã nº 1 das Mercenárias. Quando as viu pela primeira vez, disse: "Vou comprar uma bateria e esta será a minha banda".
Apesar das variações de uma canção para outra e das longas saias que hoje substituem os negros trapos. as Mercenárias continuam "punks" para o batalhão de ouvidos desinformados. Isso talvez explique o inexplicável: três anos de estrada e evolução constante sem nenhum compacto gravado. Sandra é quem sabe: "O produtor de uma gravadora disse, já faz um tempo, que o Brasil só estaria preparado para músicas como ´Honra´ daqui a uns cinco anos. Mas aí já perdeu a graça, nós nem tocamos mais essa música".

Ultraje a Rigor - Entrevista


ULTRAJE A RIGOR - INVADINDO TODAS AS PRAIAS

BIZZ - Nós Vamos Invadir sua Praia está vendendo muito bem. Quando é que vocês vão gravar um disco novo?
Roger - Na hora de assinar o contrato, a gente falou que não queria entrar no estúdio num prazo certo, mas quando tivéssemos músicas boas para um segundo LP. O primeiro foi superesperado. A gente ia fazer shows e todo mundo perguntava quando ele ia sair. Fizemos eleição com o público num show na danceteria Rádio Clube, em São Paulo, para escolher o que gravar. Escolhemos as sete primeiras e colocamos quatro músicas novas. Quer dizer, a gente tinha certeza de que seria aceito. Mas tem algumas músicas que sobraram do primeiro LP (risos). Tem algumas instrumentais. No começo tinha muitas: "Beer", "Balde de Gelo", "Maquininha", "Robson e seus Robôs" e "Crescendo".

BIZZ - Quer dizer que não vai ter aquele número de lançar em novembro para vender no Natal?
Maurício - Não! No máximo a gente lança uma marchinha para o Carnaval. (risos)

BIZZ - Vocês já tiveram problemas com as feministas? O Leospa disse, por exemplo, numa entrevista à "Folha de S. Paulo", que mulher serve é para trazer o carro do aeroporto quando a gente viaja. Roger - Não conhecemos nenhuma (risos). É que a gente fala tudo em tom de brincadeira.
(Carlinhos finge roncar, entediádo. Disse só uma frase, uma palavra, na entrevista.Saiu no meio do papo para ir ao dentista e voltou uma hora e meia depois, com a boca torta, anestesiada.)

BIZZ - O Roger está tendo aulas de canto com a Nancy Miranda. Não é ela que está dando aulas de dicção pro Eduardo Suplicy (candidato do PT à prefeitura de São Paulo)?
Roger - É ela. Mas parece que não está adiantando muito. (risos)

BIZZ - Vocês estão conseguindo um tempo livre, sem shows ou gravações?
Roger - Nós trabalhamos muito desde o começo da gravação do LP. Passamos no Rio 28 dias gravando o LP e não invadimos nenhuma praia. Nem vimos nenhuma! Nem o calçadão!
Maurício - É. Nós voltamos para casa de submarino.

BIZZ - Mas vocês não têm uma programação tipo passar janeiro e fevereiro nas Bahamas? (risos)
Maurício - Nós estamos programando isto há anos, cara (risos).
Leospa - O mais longe que a gente conseguiu ir foi a Ubatuba (litoral de São Paulo) na casa do Maurício.
Roger - Eu consegui chegar até Uberaba. Mas este ano nós estamos pensando em parar um mês inteiro, em fevereiro. E uma semana deste mês ir até Nova York.
Maurício - Porque embora roqueiros, nós também somos carnavalistas. Eu e o Roger pulamos todo ano.

BIZZ - Em N.Y. vocês vão acabar ouvindo muito som. Como é que é a relação de vocês com o rock de fora? O Roger já andou dizendo que não está nem aí com o rock inglês.
Roger - Não é bem assim. A gente procura não copiar, não chupar.Saiu, eu escuto, mas me ligo mais é no rock brasileiro, ultimamente. Gosto de ouvir os outros grupos todos. Gosto do Ira!, Lobão, Legião Urbana, Paralamas, Capital Inicial, RPM, mesmo do Metrô...
Leospa - Até mesmo o Kid Abelha!
Roger - Tem também o Léo Jaime, o João Penca... Mas ver shows é difícil. A gente toca todo fim de semana.

BIZZ - Todas as bandas mencionadas já são conhecidas. Vocês acompanham o pessoal que está subindo?
Roger - Não dá tempo. Ando curioso para ouvir o Tokyo, me falaram muito bem.

BIZZ - Vocês têm já um papel de liderança. O Ultraje é muito procurado por novos grupos, que vão levar demo tapes?
Maurício - Ô! É o maior encosto, cara. Mandam fitas, releases, telefone, muita coisa feita em casa. Mas, sério, não é frescura. Não dá tempo de ouvir mesmo.
Roger - Tem um ou outro grupo, como o Musak, que é de um amigo nosso. Não consegui vê-los ao vivo. Só ouvi fita. O Akira S e as Garotas que Erraram gravou com o Musak, não foi? Mas eu não ouvi. O pessoal acha que a gente tem capacidade de chegar, levar os caras para a gravadora. É difícil. E eu não acho que espeste é o caminho. Nós fizemos muitos shows, e fomos conquistando o público fora das rádios. Depois é que nós conseguimos sucesso na rádio. O pessoal acha que é simples. Quando a gente ouve uma fita, o que a gente pode fazer é levar a fita para o Peninha, o Liminha (produtores do Ultraje). E eles não fazem nada (risos).

BIZZ - Hoje está acontecendo um deslocamento do rock de São Paulo para o Rio. Vocês ainda sentem, tocando no Rio, algum problema de aceitação?
Roger - Não. Somos um grupo brasileiro. A gente é aceito normal, talvez até mais que em São Paulo, porque nós ficamos muito tempo tocando aqui, sem sair de São Paulo. Até imitam nosso sotaque. (Em tom caipira.) Eu me mordo de ciúme (risos). Hoje há bandas de Brasília, de todo lugar. Começou no Rio por uma proximidade das gravadoras e da Rede Globo, eu acho. Como começaram todas ao mesmo tempo, agora estão preparando outro LP, descansando... Neste tempo, todas as gravadoras resolveram reparar em outros Estados.
Leospa - Da próxima vez acho que vai ser a vez dos caras do Sul. Lá tem uma batelada de bandas.

BIZZ - Vocês acompanham o rock brasileiro desde o comecinho. O que vocês acham que mudou substancialmente no nosso rock de lá para cá?
Peninha - Eu ganho mais! (risos)
Leospa - Tinha menos gente naquela época para representar o rock. Na Tropicália, por exemplo, tinha Rita Lee, Raul Seixas, mas era muito pouco. De repente agora o rock pegou legal.
Roger - Tinha também num período grupos tipo O Terço, mas eram meio na cola dos importados, e a cópia ficava sempre mais chutada. Acho que hoje em dia o pessoal está mais ligado mesmo em fazer um rock brasileiro, com as condições daqui, os temas daqui, aparelhagem daqui...
Maurício - Não, aparelhagem daqui não.
Roger - Isso no começo.

BIZZ - Vocês vão virar psicodélicos?
Maurício - Que é isso? Deus me livre! Nós já passamos esta fase. Meu cérebro já está psicodélico.

BIZZ - Voltando às bandas, quem vocês ouvem lá de fora?
Roger - Eu gosto de Pretenders, Billy Idol, mais ou menos Bruce...
Maurício - Eu gosto muito do The Cure, gosto do U2 pra caramba, do Clash e de algumas bandas heavy, Gary Moore, Alcatraz... Não gosto da new deprê.

BIZZ - As pessoas reconhecem vocês na rua, arrancam roupas, estas coisas?
Leospa - Nossa. Ontem foi uma catástrofe. Nós descemos, eu e Roger, num bar de beira d´ estrada voltando de Minas. Pintou uma plaquinha indicando uns lambaris e nós paramos.
Maurício - Programade Zé Bétio...
Leospa - Mas é legal uns lambaris. Chegamos na maior inocência, achando que dava para pegar uma mesinha e tal. Só que estava cheio de ônibus de excursão. Nós chegamos no balcão e foi aquele massacre. Tivemos que pedir tudo para viagem.
Roger - Mas normalmente o que acontece é que o pessoal conhece, a gente cumprimenta.
Maurício - No caso do meu prédio, as meninas enchem o saco.
Roger - Tem muito a mágica do show. Às vezes temos de sair com segurança. Mas é legal. A gente gosta disso.
Maurício - O único medo que a gente tem, quando vai tocar em cidades pequenas, é dos namorados das meninas, aqueles moleques filhos de fazendeiro que andam de revólver. Mas não acontece. A gente tem dado sorte. Só tem vindo solteiras (risos).!

BIZZ - Os shows estão sendo feitos em cima do disco?
Roger - Não. São mais livres, mais improvisados, com mais solos. O som é normalmente um pouco mais rápido e mais sujo.

BIZZ - Este som "sujo", este clima, está muito no disco. Como é que vocês conseguiram isto?
Roger - O Peninha e o Liminha viram muitos shows da gente. E nas gravações a gente ficava falando: "Mais assim, mais assado", ouvia o que tinha saído. Botava os amplificadores no talo e dizia: "Eu quero que saia este som". E tivemos muita liberdade no estúdio. Era aquele regime de escravatura amigável. "Ciúme" e "Se Você Sabia" gravamos todos juntos, como sefosse mesmo ao vivo.

BIZZ - Em algum momento vocês se sentiram assustados com o sucesso, ou nem deu tempo?
Roger - Nosso público ia crescendo. Quando a gravadora lançou "Inútil" tinha toda aquela expectativa. E não estourou. Depois foi a mesma coisa com "Eu Me Amo". Também não estourou. A gente foi acostumando com a idéia. Aí quando a gravadora lançou o mix do "Ciúme" começou a tocar nas rádios. E virou o maior sucesso. Não chega a assustar porque a gente esperava e gosta disso. Mas tem sustos como o do lambari.

BIZZ - Que direção vocês acham que o rock daqui vai tomar?
Roger - Eu acho que o rock tem de ser simples. Ele pode ser complicado ritmicamente. Tem o caso de certas pessoas que nunca se sofisticaram, que sempre fizeram rock básico, como é o caso dos Stones. Sofrem influências, assim como a gente sofre de outros tipos de músicas, como funk ou heavy. O complicado do rock é que é difícil fazer música boa com coisa pouca.

BIZZ - Em Nova York vocês vão ver muitos instrumentos. O que é que vocês estão usando agora?
Roger - Eu tenho uma guitarra só, uma Fender Lead One (um modelo Strato fabricado no Japão).
Maurício - Você tem outras duas.
Leospa - Das outras duas é melhor não falar na entrevista. São brasileiras.
Roger - Eu tenho um amplificador Cube 100 da Roland, um pedal Heavy Metal, um pedal digital delay, que preciso mandar consertar, e um saxofone.
Maurício - Tenho um amplificador Gallien-Kruger e um Fender. Tem ainda um Peavey.
Leospa - Eu tenho uma Tama, cheia de pratos e tal. Não uso bateria eletrônica, só acústica.
Carlinhos - Eu tenho uma guitarra Jackson e outra Vitório (celebrado artesão paulistano). Só o corpo. O braço é alemão e os captadores Di Marzio. Tenho amplificador Dean Markley, uma caixa Marshall, um outro amplificador Roland, um digital delay Ibanez e outro Delta Lab...
Maurício - E uns cento e cinqüenta pedais.

KID VINIL


TUDO PODE MUDAR

Lembro-me de uma antiga canção de Elvis Costello chamada "Radio Radio" em que a letra diz:
"As rádios estão nas mãos de um bando de idiotas, que estão tentando anestesiar tudo aquilo que a gente sente. " 
Pois é, meus caros. A situação das FMs no momento é mais ou menos essa. Quem dita e faz a onda musical desse país? Não é a TV Globo com seus musicais nem as rádios AM; são as FMs e basicamente no eixo SP/RJ.
Conclui-se que a moda musical e os novos ídolos de massa são criados pelas freqüências. Se tocar na FM está feito; do contrário, viverá no anonimato.
Qualquer pessoa que gravar um disco pode ser famosa neste país. Só depende de uma boa "armação" da gravadora, para tocar exaustivamente nas FMs e depois partir para TV, AMs, revistas, jornais etc...
Poucas são as FMs que arriscam em espaços alternativos, e a alegação principal é o patrocinador.
"Roqueiro brasileiro continua tendo cara de bandido."
Partindo desse princípio, as programações de rock não são muito bem-vindas pelos grandes patrocinadores, que preferem investir em horários destinados à música pop comercial, descartável e repetitiva. Patrocinadores alegam que roqueiros são duros e não compram nada. Para as FMs alternativas só restam patrocínios do tipo "surf-shop" e pequenas etiquetas, que não geram muita grana pra rádio.
Então ouve-se Madonna, Springsteen, Prince e todos os que despontam nos primeiros postos das revistas Billboard e Cashbox, que são as paradas americanas. A FM brasileira sempre foi um reflexo do mercado americano.
Até Tears for Fears estourou por lá e as rádios aqui já tocam "Shout" e "Everybody Wants to Rule the World" exaustivamente. Se um  dia os Smiths chegarem a 1.ºnos EUA, fique certo que vira sucesso por aqui, como foi o caso do Tears for Fears. Todo rock a que se tem acesso na maioria das emissoras é esse embalado e aprovado pelos americanos.

Reflexo dos EUA
Todas as vezes que se tenta fazer uma programação alternativa em qualquer rádio da moda, sempre se tem a certeza de vida curta. Isso eu falo por experiência própria, desde os meus tempos de Excelsior FM, onde comecei em 79. Na época, eu fazia um programa sobre punk/new wave - imaginem o absurdo, para79, em nossas rádios. um programa do gênero, em pleno auge da disco music. Nem precisa falar que teve vida supercurta.
Restam-nos algumas esperanças, e gostaria de comentá-las, como por exemplo aFM da USP, que abre espaços para novas propostas, a 97 do ABC que equivale a uma FIuminense do Rio - porém não sintoniza muito bem no Centro de São Paulo.Caso aumente a potência ficará melhor ainda pra nós. Também existem alguns especiais da Bandeirantes, Antena 1, Transamérica, Pool, Cultura, Eldorado, muito interessantes e já comentados pela BIZZ.
A realidade é essa: o padrão FM é imutável, tá dando certo, os patrocinadoresadoram e investem. A vanguarda e a informação musical sempre serão coisas para minorias intelectuais, segundo aqueles que estão no poder.
As emissoras que arriscam mudar correm sérios riscos, e um exemplo recentefoi a Jovem Pan II, que deixou de lado os Menudos e Tremendos e passou a arriscartocando U2, Smiths, Style Council, New Order etc. Conclusão: caiu no Ibope de1.º para 5.º lugar. O mesmo ocorreu com a Transamérica algum tempo atrás. 
A única emissora até hoje que deu certo no gênero das independentes foi a FIuminense do Rio, que já briga pelos primeiros lugares no Ibope. Isso é sinalde que os Menudos já não estão com essa bola toda, espero eu.
E, falando em independentes, começam a surgir hoje os DJs interessados e pesquisadores do assunto, como Maurício Valladares da FIuminense/RJ, Arthur Veríssimo da USP, Jaime e Alê do Rose Bom Bom, Marquinhos e Magal do Satã e 97, Eric daBandeirantes, Fernando Naporano da Antena I, Thomas da Cultura, Valdir Montanari da USP e outros mais (que me desculpem os que não me vieram à cabeça no momento, mas que admiro demais e acredito venham a encabeçar uma nova geração no rádio, pra fazer com que as coisas mudem).

Além de vocalista da Magazine, KID VINIL trabalha em rádio desde 1979. Na Excelsior, produzia e apresentava o Rock Sandwich, com Leolpoldo Rey.Hoje ele faz o New Beat, todo Domingo às 17 h, pela Antena I.

JORGE DEGAS & MARCELO SALAZAR NO PORÃO DA BIZZ


Imaginem dois amigos que toquem juntos desde a adolescência. Então, um dia, em meio a uma jam session, eles olham um para o outro, assustados com o entrosamento que alcançaram: percebem que estão criando uma nova concepção na música e em seus instrumentos.
Assim nasceu a dupla Jorge Degas (baixo) e Marcelo Salazar (percussão). Resolveram fazer uma interrupção no trabalho, como músicos de estúdio, e registrar sua incomum parceria no disco indepedente União.
Mas os caminhos que percorreram poderiam até ter evitado esse encontro necessário. Jorge Degas é negro, de uma família pobre de Petrópolis, aprendeu a tocar violão sozinho e até trabalhou como copeiro para pagar seus estudos de música. Deu "canjas" em gafieiras e tocou com grupos amadores - foi em um deles que conheceu Marcelo - até começar a trabalhar com gente como Paulo Moura, Marcos Rezende e Alceu Valença. Hoje, Jorge manipula o baixo com o desembaraço do funk americano, e chega a batucálo como um atabaque dos terreiros de macumba que freqüentava.
Para Marcelo Salazar, nascido na classe média de Copacabana, as coisas foram mais fáceis. Apaixonouse pela percussão em um show do cantor Ritchie Havens e ouvindo discos do Santana. Trabalhou, também, com cantores famosos e com o grupo americano Odissey. Curte rock e o jazz das big bands, e tempera seus tambores com uma pitada de rumba ou salsa.
No disco estão presentes todas essas influências e mais um pouquinho de rock progressivo, além da presença de Jacquinho Morelembaum (violoncelo elétrico) e mais vinte músicos participantes. Na opinião da dupla, o som é completamente diferente do jazz atual e da MPB instrumental. "Nada de solos excessivos e monótonos", diz Marcelo. "Em nossos shows o público sente a sinceridade dessa música dinâmica e instigante, tanto nos duetos - totalmente improvisados - quanto nas composições tocadas em grupo."
As baladas de sax e violão, os ex-perimentos com o cello elétrico, uma irresistível salsa e os muitos duetos de União comprovam essa busca de novos horizontes musicais.

HANOI HANOI E ARNALDO BRANDÃO NO PORÃO DA BIZZ


Com "Garota do Ano", o super-baixista e vocalista Arnaldo Brandão voltou aos ares radiofônicos e partiu para a concepção do grupo Hanói-Hanói. Veterano roqueiro da cena carioca, Brandão era do lendário The Bubbles, depois A Bolha, no início dos anos 70. Mais recentemente, participou da Outra Banda da Terra, de Caetano, e formou o Brylho - que estourou em 83, com um álbum pela WEA. Eles tinham tudo para realmente brilhar mas, segundo Arnaldo, "o ego de cada um inflou demais e o grupo ficou pequeno para tantas estrelas". No início de 85, o Brylho ainda colocou uma faixa na coletânea Rock In Brazil (RCA), mas o clima não era dos melhores e eles se separaram. Amigavelmente.
Só, com um repertório quente nas mãos - em parceria com o poeta e "videólogo" Tavinho Paes -, Arnaldo passou o Carnaval trancado em casa e gravou uma fita demo. O resultado agradou o produtor Guti Brandão, que descolou um contrato-solo na RCA. Daí o lançamento de "Garota do Ano" - música que ficou seis meses presa na "Nova" Censura.
Enquanto enfrentava os burocratas da censura, Arnaldo recrutava músicos para atacar ao vivo. Depois de alguns testes encontrou o experiente e pesado Pena (ex-Herva Doce) e o ótimo e desconhecido guitarrista Afonso.
O som do Hanói-Hanói, mais para o power-trio, mas com algumas pitadas do balanço negro, tem conquistado adeptos.
Não podemos nos esquecer da eminência parda ou o quarto membro da banda, Tavinho Paes, que se autodefine como "um elemento branco, que não toca nada, não pinta no palco, ficando mesmo com a má influência do grupo". Ironias à parte, Tavinho é figura decisiva no conceito do Hanói, não só pelas letras espertas e fulminantes, como também nos releases e na direção dos shows e  videos.
Com tudo em cima, só falta os executivos da RCA abrirem os estúdios. Na seqüência, até o final do ano, deve chegar o LP Arnaldo Brandão & Hanói-Hanói, com preciosidades como "Partido Verde Alemão", "Renascença Rock", "Os Brotos Também Amam", e "Bonsucesso´68".

Ritchie


Ele sentiu na pele que o grande estouro pode ser uma faca de dois gumes e agora, com Circular, seu terceiro LP, Ritchie corre atrás do espaço perdido. Depois do sucesso da estréia, o segundo LP não repetiu o feito, mas o curioso é que...E A Vida Continua chegou a vender 170 mil cópias. E, comparado com outros discos do nosso rock, ainda foi o recordista em vendas do ano passado. Mais, por exemplo, do que os hiperexecutados discos de ouro do Kid Abelha, Paralamas e Barão Vermelho. O problema é que ficou muito abaixo dos espetaculares números de Vôo de Coração: 800 mil cópias, segundo a gravadora CBS. 
Hoje, depois de um recolhimento e o trabalho cuidadoso para o terceiro disco, Ritchie explica o que aconteceu a partir da conjugação de muitos fatores. A CBS, por exemplo, era contra o lançamento do segundo LP naquela época - outubro de 84 -, preferindo que ele deixasse para o início de 85: "Eu, no entanto, senti que as coisas estavam mudando muito rápido dentro do cenário do rock e achei importante me afirmar com um novo trabalho". 
Além da pouca penetração junto as rádios e tevês, Ritchie também não foi bem-sucedido na turné programada: "Eu entrei no esquema das danceterias e o público desses locais queria mesmo é ver os novos conjuntos, o pessoal mais marginal, não a banda do Ritchie. Isso me deprimiu um pouco".  

Latino neo-hippie
Cabeça fria, desde o início de 85 ele veio preparando Circular. O título sugere uma retomada e mesmo a canção escolhida para as rádios, "Telenotícias", me soou como um autoplágio. Ritchie nega qualquer replay: "Eu acho que é mesmo um processo cíclico, circular, mas numa progressão espiral, pra cima. Nas letras há um neo-hippismo, mas com ironia, sem nostalgia. E musicalmente tem elementos jazzísticos, mas é bem pop e superlatino. Há toda uma tendência de latinização na música pop: Matt Bianco, Sade, Style Council. E a gente aqui no Brasil, com tudo isso embaixo dos nossos pés. Estou dizendo desde o primeiro disco que o meu maior sonho é integrar tudo isso de uma forma que não seja cafona. Agora acho que consegui achar uma linguagem que não compromete o meu estilo pop, mas que é muito brasileira". 
Para chegar a esta dosagem, Ritchie convocou dois produtores ingleses, James Asher (velho amigo seu que toca bateria no LP Empty Glass, de Pete Townshend e Frazer Henry (engenheiro de som do Echo & The Bunnymen). Isso depois de saber que não poderia contar com nenhum dos três brasileiros em que confia: Liminha, Lauro Salazar e Mayrton Bahia. 
Com Circular nas lojas, ele lançou-se ao trabalho de divulgação. Shows só para o final de novembro. Enquanto isso, fica de olho no que rola no circo roqueiro: "O Ultraje vai fatalmente passar pelo mesmo processo que eu: de você ser a coqueluche do momento e depois ter que mostrar o que sabe fazer. Porque há muita coisa imposta pelas gravadoras". 
Para Ritchie, destes milhares, de novos grupos que chegam, poucos sobreviverão: "Há um grande perigo de a qualidade ser cada vez menor. Apesar da qualidade dentro do rock não ser um dado fundamental, taí, por exemplo, o Biquini Cavadão, e eu adoro aquela música ´Tédio´. Mas reconheço que é muito pobre... E a tendência das rádios parece ser a de cada vez mais procurar produtos fáceis".


Metrô


Dos vôos instrumentais da Gota Suspensa - o primeiro nome da banda - à penca de hits que eles colheram em 85. Dos festivais estudantis à televisão em cadeia nacional. Tudo isso engorda o currículo desse grupo franco-paulistano, em busca agora de seu futuro pós-estouro. Luísa de Oliveira faz o papel de Sherlock  

Todo mundo já ouviu "Ti-Ti-Ti" de Rita Lee na versão do grupo franco-paulista Metrô. Neste ano, também conheceram outros hits da banda como "Beat Acelerado", "Sândalo de Dândi" , "Olhar" e "Tudo Pode Mudar". 
Mas você sabia que, antes disso, o Metrô já se chamou A Gota Suspensa? Que, apaixonado pelos Novos Baianos, se apresentou distribuindo flores para a platéia e estava vestido com quimonos de cetim? 
Pois é verdade. A Gota surgiu em 79, num festival estudantil, e andou pelo circuito universitário paulista fazendo shows onde cada um mostrava tudo o que sabia. Teve várias formações e fases. O grupo conta que foi hippie, progressivo e místico. 
O sonho era gravar um disco. Em 83, a Gota conseguiu lançar seu LP pelo selo independente Underground. Não faltaram problemas e brigas com o produtor. 
Nesta época, já pensavam em uma gravadora. "A gente queria sentir o que é o Brasil. Sair do Rose Bombom (uma danceteria paulistana) e tocar para dez mil pessoas", lembra o guitarrista Alec. Depois de namoros com a WEA e a Som  livre, acabaram mesmo na CBS. 
O grupo mudou bastante. O nome Metrô saiu de uma lista que incluía Telex, Tokyo e Bamboo. Por que? Para Alec, o grupo queria fechar a época anterior. Deixou o instrumental com toques progressivos e as letras em francês para procurar hits em português. "Na época o que tocava era ´Ursinho Blau-Blau´ ." Investiu nas parcerias e nas composi-ções dos amigos. Daí surgiu "Beat Acelerado", uma bossa-nova transformada em rock. Sua versão original está no LP Olhar. 
"A gente saiu do céu para cair no chão", continua Alec. "Já passamos pelo idealismo, conhecemos bem este país. Temos que ir junto com o público. A maioria não entende. O público no Brasil não é crítico. Não houve uma transição da MPB para o rock." 
O Metrô não sabe como será o próximo LP, mas tem um objetivo: melhorar as letras. "Assumimos que elas não são boas", fala Dany, o baterista. 
"A gente sempre escreveu em francês. O português é difícil", continua o · tecladista Yann. "Todo mundo fala do U2, mas é brega." (Em pé, ele canta uma versão para "Pride": "Em nomiii do amôôr...") 
Dany coloca o Metrô dentro de uma postura pop e isso "permite simplicidade". Ele explica: "O Bowie, por exemplo, canta ´let´s dance´, vamos dançar". Yann acha que tudo já foi feito no rock: "Só os Beatles já fizeram quase tudo. A linguagem é que muda, há uma evolução. Os Beatles fizeram ´Sargeant Pepper´s, mas também fizeram ´She Laves You´ ". 
Todos consideram Léo Jaime o melhor letrista do Brasil e lembram grupos como RPM, Legião Urbana, Ultraje a Rigor e Ira! Não citam nomes, mas reclamam daqueles que "repetem as bandas inglesas".


Rock Gaúcho 


ROCK ÀS PAMPAS

"Eu era rato de esgoto cloacal/Eu era um verme e pensava que era o tal", começa a banda Fanzine, em sua versão de "Boy Subterrâneo", música dos Replicantes.
Quem fornece a trilha sonora para essas escapadas tem os pés no chão. "Em Porto Alegre, tu tá entrando num estúdio que está tecnologicamente vinte anos atrás de um paulista, que, por sua vez, já está atrás de um estúdio de terceira de Londres. Isso sem falar dos instrumentos...", avalia Matz, baterista da banda Engenheiros do Hawaii. "Por isso é estranho ouvir as nossas músicas depois do Mark Knopfler, com borboletas voando no final da tarde."
A cena gaúcha, no entanto, já foi menos privilegiada. Cau, baterista da banda mais persistente da cidade, Taranatiriça, lembra que quando estrearam, em setembro de 79, o circuito era constituído de palquinhos de colégio. "Só gostavam do som que a gente fazia os malucos da época. Não há saudades. Totalmente Rock é o nome do LP que resume a atual fase do grupo: rock´n´roll descontraído, dançante, com superexecução nas FMs.
O Taranatiriça foi o primeiro a sair em LP (via a gravadora gaúcha Acit). Além deles, compactos, coletâneas e até fitas caseiras têm percorrido as FMs disponíveis (alternativas e esquemão). Os novos grupos, algumas vezes apenas com equipamento emprestado e vaga concorrida numa garagem, aos poucos vão se impondo no mercado.
"Enquanto o Terceiro Mundo espera o juízo final/ Eu quero uma vaga no ônibus da corrida espacial", insinuam Os Replicantes. Eles eram andróides de vida curta no filme Blade Runner. Hoje, são o grupo de maior futuro no Estado. Seu começo, como em todas as aventuras, foi inusitado.
Na cara de pau, invadiram a festa de um amigo com os instrumentos e começaram a carreira. "Nossa idéia inicial era diversão", confessa o baterista Carlos Gerbase. "A gente queria aprender a tocar, e com as nossas músicas, porque as dos outros eram muito complicadas. Se isso significava fazer uma banda direto, nós fizemos."
"Quando ´Nicotina´ (a primeira gravação) pintou no rádio, muita gente criou coragem pra fazer o seu próprio grupo´´, afirma o vocalista Wander Wilder. "Se nós podíamos tocar, por que não?" Esta proposta se radicaliza no palco. ´A gente executa umas músicas que nem ensaiou direito", assume o guitarrista Cláudio Heinz. "Porque não nos interessa se erramos um pouquinho. Não é problema." Heron Heinz, o baixista, complementa: "O que nos interessa é tocar cada vez mais rápido, fazer um show com 50 musicas em duas horas". 
"Surfista Calhorda" é um grande hit ("Requi na caranga muito  louca pra dar banda/ Cheque na carteira recheada de paranga/ Prancha importada assombrando a meninada/ Corpo de atleta e rosto de baby johnson"). A performance é sombria. Do punk ao dark com muita velocidade. Ousados, chegam a exorcizar demônios expressionistas  numa versão acelerada de "Bela Lugosi is Dead", clássico do Bauhaus. "Não seguimos nada à risca. Se existissem várias bandas punks na cidade, estas não gostariam tanto de nós " raciocinam.
Nos palcos de porto Alegre, at´"Sympathy For The devil (lembram?), dos Rollings Stones, pode virar drak Wave. A idéia, desta vez, é da banda Urubu Rei, que estreou como minimalista, percorreu a new wave (com vocal feminino e guitarra raspada) e agora ataca as linhas do pop britânico numa versão mais cool, cantada por Júlio Reny  ele por sua vez, tem seu próprio trabalho solo (banda Km Zero)
O dark também compõe o visual do trio Defalla (roupas escuras, cruzes e correntes). O que se Houve no entanto, é uma parede pós punk onde mixam-se os mais diversos elementos. "Nosso som é algo entre o sexo e dança", tenta definir o guitarrista Edu K. (também Km Zero e Fanzine). A bateria tribal, cheia de tom tons, vai direto aos pés, baixo pulsante comanda a cintura e a guitarra arrebenta os tímbanos. Criancinhas apaixonadas decoram as letras: "Sodomia!/ Você não diz que doí/ Mas veja suas lágrimas/ E se pergunto o que foi/ Você diz: não pare mais". A crítica, claro fica atônica. "A critica não entende o tipo de música que a gente está propondo", constata a baterista Biba (também Fanzine e Urubu Rei).
O troféu performance vai para a banda Atahualpa (ex-Atahualpa i us Panqui). Trata-se de um motel de alta rotatividade, por onde circulam componentes do Urubu Rei, o baixista do Taranatiriça e um ex-reporter policial. A formação não é lá muito estável. Nunca se sabe o que vai acontecer no palco, ou quem vai tocar o quê. Os Replicantes ainda estavam na garagem, ensaiando, quando os Atahualpas invadiram a noite subtropical, levando eu hardcore no último volume, de preferência de uma caixa estourada:
"Se eu for bonzinho ainda vou descobrir/ Um plano infalível pra aumentar meu salário/ Se eu for bonzínho ainda vou ganhar/ Uma boneca inflável no meu próximo aniversário". O baterista Castor (que toca guitarra no Urubu Rei) é o mais alucinado: ou ele quebra a baqueta, a bateria ou desmaia.
"A grande satisfação em tocar no Atahualpa é liberar tudo aquilo que não se pode liberar no nosso trabalho em outros grupos", resume o vocalista, tecladista e arranjador Gordo Miranda (também Fanzine e Urubu). Com isso, ganha o espectador: microfonia, cadeiras voando, espuma de extintor de incêndio, músicas que terminam pela metade.
O guitarrista do Engenheiros do Hawaii, Getz, no entanto, não vê sentido em subir num palco e ficar fazendo microfonia. Em Porto Alegre. o palco faz microfonia por si só, Então, se eu encontrar espaço pra pôr um solo supermelodioso. eu vou fazê-lo."
Há. inclusive, os que não sobem no palco. E o caso da Fanzine, uma idéia de Pedro Santos, ex-Asdrúbal, que praticamente contratou alguns instrumentistas para reinventar musicas de outros grupos. "Fanzine é uma banda que só existe em fita", esclarece Miranda. "Depois de uma sessão de gravação, a gente nunca sabe o que vai acontecer." A motivação é o amor de fã. Já transformaram dois hardcores (dos Replicantes e Atahualpa) em tecnopop e balada psicodélica.
"Porto Alegre tem poucos músicos, por isso a gente toca em tantos grupos", diz Miranda. E cada trabalho num estilo.
Os Eles optaram pelo rock eclético. Até o final do ano estarão somando sete músicas em execução nas FMs, incluindo uma religiosa, para o Natal. Polêmicos, preferem criticar as pessoas que vivem correndo atrás da última moda da civilização. Cantam: "Essa menina é que nem filme mudo/ É só imagem". "O que a gente faz é retratar o cinismo da nossa geração", como prefere o vocalista Leandro.
"O cara que eu mais vejo em Porto Alegre caminha de pernas abertas, cada pé indo prum lado", observa Getz. "Ele gosta do ´The Wall´, mas tão vendendo U2, daí ele compra U2, pensando: ´Onde éque eu me enquadro?´, cada vez mais angustiado."
O Engenheiros do Hawaii é um trio pop retrô que taz reggae e ska quadrados. que veste urna camisa surf e quer continuar segurando a barra classe média que seus pais tocaram para frente. ´´Engenheiros do Hawaii foi um dos nomes mais antipáticos que a gente conseguiu bolar", resume Matz, o baterista. Uma de suas canções diz: "Eu sonho com a elegância, extravagância do Duran Duran/ A gente não tem nada a ver". E o alto falante faz: BOOM!

Muzak - No Porão da Bizz


MUZAK

Você já deve ter ouvido seu rock preferido transformado num meloso arranjo orquestral. Pois bem. A idéia original foi da empresa Muzak lncorporated, que fez fortuna infestando salas de espera e alto falantes públicos com este tipo de fórmula.
Existe um trio de rapazes que resolveu chamar-se Muzak. No dialeto musical o termo significa, ainda, deturpação da música. Como assim? "O lixo americano que reinava nas FMs quando começamos, há um ano e meio", explica o vocalista, baixista, letrista, artista plástico e, acredite se quiser, laboratorista farmacêutico Osmar Buono, um dos componentes do trio.
Das primeiras composições, permeadas de uma natureza pesada e tribal  tão provocativa quanto o nome Muzak  o grupo passou a dar mais importância a temas líricos, românticos. "Percebemos uma preocupação maior com o exotismo, o lado literário da vida. E o que se respira hoje", acrescenta Osmar, Apesar da maioria das letras serem dele, todos do grupo discutem os arranjos. E o resultado éuma espantosa eficiência.
Victor, o baterista, já é velho na guerra tocou no Ira!, Gang 90, Força Aérea, além de bailinhos e festas de carnaval. Ao esquentar os pulsos para couros e pratos, não esquece as preciosas contribuições do jazz rock e da marcação soul. Osmar, no baixo, contra-ataca os ritmos de Victor. E Nivaldo, o guitarrista, alinhava tudo para atingir direto o meio centro do ouvinte.
Pulando de palco em palco desde 84, o trio saltou, em setembro deste ano, para duas gravações relâmpago. Primeiro, numa coletânea do selo independente Baratos Afins. "Muzak merecia um LP só deles", comentou Luiz Calanca, proprietário do selo.
Nem precisou espalhar a notícia. Quando Jorge Davidson, da EMI-Odeon, ouviu Muzak, não pensou duas vezes. Em três semanas colocou-os no estúdio.

Fellini - No Porão da Bizz


Não é a toa que batizaram o primeiro LP de O Adeus do Fellini. Seja pelo nome  que necessariamente remete ao cineasta , ou pelas mudanças de estilo já durante a gravação, o fato é que este quarteto não fixa estacas.
O nome talvez mude para Funziona Senza Vapore (funciona sem vapor). Da tradicional formação baixo, guitarra, bateria e vocal  substituíram bumbos e tom tons por um computador rítmico, mais violão de seis a doze cordas e sintetizador. "Enchi de tocar bateria", desabafa Ricardo, que prefere desenvolver suas idéias musicais a perder tempo aprimorando suas habilidades nas baquetas. E aí está a força motora do grupo, que já passou por quatro metamorfoses musicais desde sua formação há um ano e meio.
Segundo Volpato (vocal e letras), esse espírito nasceu quando ele e Ricardo saíram de uma internação de dois meses num hospital psiquiátrico com a idéia de montar uma banda. Brincadeira ou verdade, Volpato ainda confessa: "Minha fixação era o Thomas", baixista.
Parece que o reconhecimento não se restringe ao vocalista, Em 83, Thomas e Jayr (guitarra) tocavam no Os Internacionalistas, banda composta pelos "embriões da nova safra paulista", nas palavras da critica da época. Um dos filhos é o Smack, onde Thomas toca bateria.
Quando ele foi convidado para integrar o Fellini, queria fazer qualquer coisa, menos rock. Por isso, hoje eles preferem dar destaque à melodia, harmonização, silêncío e ruídos. Quem quebra o aparente luxo musical é Volpato, incluindo nas novas letras frases do tipo: "Me deixa na minha, bicho".
Durante o ensaio pôde-se ter uma idéia do que vem por aí. A inclusão do acústico no repertório traz na base raízes da MPB. Esta, temperada com a contemporaneidade do quarteto, ganha nova roupagem, envergando em 180º as velhas repetições de seus velhos ídolos.

Nau No Porão da Bizz


No século XXI os navegantes saiam em naus à procura do novo que estava além-mar. Inspirados nisso, Zique (guitarra), Beto Birger (ex-baixista do Zero), Mauro Sanchez (bateria) e Vange Leonel (vocal) se reuniram, montaram o Nau e saíram à caça de um novo som dentro do rock.
Optaram pelo power trio. "Ele e o essencial", lembra Zique. "Sempre foram os mais significativos dentro do rock. Nele, todos os instrumentos têm uma função rítmica e existe um espaço para o silencio", completa Beto. "Facilita muito ser trio. A bateria e o baixo fazendo a base, a guitarra delirando por cima e a voz mais por cima ainda."
"Fazemos um som potente avisa Vange. "Rock é pauleira mesmo. É um tipo de trabalho em que a gente lida com a emoção." Para isso, decidiram trabalhar o lado mais forte de cada instrumento. Usam uma guitarra quase heavy, um baixo puxado para o funk e exploram o vocal de Vange com o que ela acha que há de mais forte para a voz feminina: "O sentimento do blues".
Aliás, o vocal é muito importante para o Nau. A colocação de uma voz potente, que pode até estar tratando de temas líricos, é fundamental. "Existem poucas vocalistas de rock no Brasil. De pop, existem muitas. O rock exige um vocal potente. Agudo, mas não água com açúcar". afirma Vange. "Uso a voz como um instrumento. O lance da voz é que pega pelo humano, lida com a vibração de dentro do teu corpo. Tanto é que o karaokê está na moda."

Kali - No Porão da Bizz


Kali, na Índia e em algumas regiões da África, é a deusa da renovação, da transformação e da proteção à mulher que trabalha. Não se sabe de nenhum culto a Kali no Brasil, mas existe um grupo feminino de música instrumental que resolveu pegar emprestado o nome da deusa.
"Dizem que ela tem um lado ruim de destruição para chegar na transformação. Mas a gente não vai por aí, fazemos uma música com astral mais para cima", avisa a guitarrista Renata.
O Kali já existe desde 82, mas só há dois anos está com a formação atual - além De Renata , tem Mariô nos teclados, Gê no baixo e Vera na bateria.
As quatro já se conheciam de shows em bares e da época em que estudavam no clam (escola montada por Zimbo Trio). São todas apaixonadas pela bossa nova e pelo jazz, tanto é que o primeiro LP do grupo, lançado em janeiro pelo Som da Gente, caminha bem por este lado. Mas elas não gostam de rótulos.
É Renata quem explica: "É uma mistura. Podem até chamar de jazz, o que no final das contas é sinônimo de improvisação e criação. Trabalhamos com música instrumental". 
Isto não impede que o grupo tenha caminhos paralelos. Atualmente, Gê, Renata e Vera fazem parte da banda que acompanha Ritchie. Mariô só não foi porque está grávida.
"Mas a prioridade é o Kali", avisam. "Queremos fazer um trabalho instrumental mais acessível, alegre e bem-feito. Não uma coisa de elite."

RPM - Uma Escada Para o Céu


"E os royalties que a gente ia receber?" foi a primeira frase que a repórter, Sônia Maia ouviu das bocas do RPM, quando chegou para entrevistar o grupo no escritório de seu empresário.
Eles têm toda a razão em defender a sua fatia do bolo - afinal, o RPM chegou lá. "Lá" é onde sempre quiseram estar - disco de ouro na parede da sala de estar, dólares para abastecer o grupo com o que há de mais novo em instrumentos eletrônicos e, de quebra, um festival de primeiras colocações na eleição "Melhores de 85" junto aos leitores desta sua revista.
Eles ainda querem mais. Leia e confira as linhas-mestras da estratégia  de ocupação. 

BIZZ - Em primeiro lugar, gostaria que vocês falassem desta excursão nacional. Vocês iam fretar um avião só para isso. Qual o roteiro?
Paulo Ricardo - Bom, o avião dançou. Dependia de patrocínio, uma informação que vazou antes da confirmação oficial. O que vamos fazer agora é Norte e Nordeste. Já fizemos Sul de montão, menos Santa Catarina. E vamos até Manaus.

BIZZ - Passando esta excursão, quais são os planos, principalmente em relação ao próximo LP?
Paulo Ricardo - O próximo LP é uma conseqüência óbvia. Vamos diminuir o ritmo de shows e começar a compor. Já está quase pronto.

BIZZ - E como está?
Paulo Ricardo - Tem uma música nossa, nova. Outra nossa com letra do Péricles Cavalcanti. Tem um instrumental e vamos gravar "London, London" (do Caetano), com arranjo nosso. Estamos querendo diminuir o pique de exposição e trabalhar sossegado. Show é muito desgastante. E esperar os novos equipamentos que estão chegando (ver ficha técnica).

BIZZ - E aí? Vocês estão riquinhos, ganhando muito dinheiro?
Luís Schiavon - Oh! Você não viu lá (na revista Veja), 150 milhões por semana? Queria saber em que conta está.
Paulo Ricardo - (sério) Não, a gente ganhou alguma grana no começo do ano passado, mas de maio em diante íamos gastando tudo.
Fernandi Deluqui - Tivemos que acompanhar o avanço do sucesso com a compra de equipamentos.
Paulo Ricardo - Éramos paupérrimos. Instrumentos Giannini, amplificadores Palmer.
P.A. - E como usamos muito, gasta.
Luís Schiavon - Desgaste e obsolescência tecnológica. Se você pegar um catálogo de dois anos atrás, de qualquer fábrica, não encontra nenhum teclado ainda em produção. Provavelmente, o teclado que eu comprei agora e gastei a maior nota, daqui a um ano e meio terá de se trocado.
Paulo Ricardo - Não temos mais preocupação com dinheiro. Dá para pagar o aluguel, sabe? Sabemos que temos muito chão pela frente. Não estamos naquele desespero de aproveitar a onda senão passa.
Luís Schiavon - Não temos mais essa mentalidade.
Paulo Ricardo - Nunca tivemos essa mentalidade.

BIZZ - E esta onda do rock brasileiro? Vai sobreviver ou dura até sábado?
Luís Schiavon - Até domingo dá para encarar.
Paulo Ricardo - Sacanagem. Acabar é fora de questão, não dá nem para supor. Acho que impregnou geral. A gente está com trinta anos de rock nas costas.

BIZZ - A gente quem?
Paulo Ricardo - O planeta Terra. O espírito está completamente incorporado.

BIZZ - Mas nunca houve aqui tanta efervescência como agora...
Paulo Ricardo - É legal estar acontecendo no Brasil. Na Argentina tem muitas bandas, várias revistas, há anos. Só que eles não têm uma música tão forte como a nossa. Acho demais que a gente tenha tido Caetano e a tropicália, Milton Nascimento e Egberto.
Luís Schiavon - A MPB é forte.
Paulo Ricardo - Por isso o rock não foi mais forte. Mas sempre tivemos Rita Lee e Raul Seixas. E aquela moçada jovem, um pequeno grupo que tinha acesso à informação importada. Mesmo assim era difícil. Os discos chegavam com um ano de atraso, e o que tinha era a revista Pop, com aquele monte de bobagem. Para conseguir uma importada você suava. Isso até dois anos atrás. A garotada só pode se identificar com isso. Você não pode pensar num músico jovem contemporâneo fazendo algo desvinculado do rock. Vai fazer um grupo de chorinho agora? Não é possível. Só se ele viveu numa fazenda, isolado de tudo que aconteceu todos estes anos. Acho que tende a piorar.

BIZZ - Piorar?
P.A. - Aumentar a contaminação. Piorar para os outros.
Paulo Ricardo - Vai ter banda (lá fora) influenciada pelas brasileiras. Vai ser uma longa história.

BIZZ - Mas, por exemplo, na Inglaterra há duas correntes. Primeiro, se voltaram para a música africana; agora também para o cool jazz e bossa-nova. Isto não significa uma consciência de que o rock é meio pobre? E, se temos uma música tão rica no Brasil, qual a graça em fazer rock aqui?
Luís Schiavon - Na Inglaterra o que está vendendo adoidado é Madonna e Dire Straits. Esta tendência que você citou é do pessoal underground, tipo a gente, que gosta de Akira S e Mercenárias.
Paulo Ricardo - Não é o mainstream. Eu só sou a fins de enriquecer. Nunca vi a gente como uma banda de ROCK AND ROLL, tipo anos 60. Queremos fazer trilha sonora de filme, todo tipo de música. Temos aqui uma percussão riquíssima. As bandas vão colocando alguns elementos e passando por transformações, tipo o Talking Heads, mais africano. Essa coisa de devorar milhões de estilos é bem rock.

BIZZ - Vocês acham que aqui no Brasil existem bandas interessantes?
Paulo Ricardo - Tem pessoas que fazem sucesso e param. Tem sempre alguma armação dando certo. Mas você vê um show do Legião no Canecão - foi um espetáculo. As músicas novas são ótimas, o Renato está cada vez melhor. O Plebe também apareceu com um disco bom. O Ira! tem muita consistência. Quatro ou cinco anos de batalha e não esmoreceu. As bandas que conseguirem uma projeção popular vão passando às pessoas as informações difíceis de assimilar anteriormente. E as bandas bregas, cada vez menos acreditadas.
Luís Schiavon - O pessoal foi percebendo que o povo não é aquele pinicão que todos pensavam.
Paulo Ricardo - Pô! O público da Bizz teve a manha de eleger "Será  a melhor música.
Fernandi Deluqui - A tendência é aumentar e melhorar, justamente pela resposta do público.

BIZZ - E esta passagem do não comercial para o comercial? Algum perigo?
Paulo Ricardo - Já ocorreu e passou. O Ultraje fica bem nessa corda bamba, daquilo que seria engraçadinho se não fosse trágico. "Eu Me Amo" é uma análise de comportamento. Um conteúdo explosivo numa embalagem de rock. Quando você percebe já está cantando "Será" e "Geração Coca-Cola". Este é o ponto forte do rock.
Luís Schiavon - Pô! Três mil pessoas cantando "Geração Coca-Cola" no Canecão!

BIZZ - E com conhecimento causa?
Luís Schiavon - Pô! (Balbúrdia. Todos falam ao mesmo tempo). No mínimo ele teve o trabalho de ler a letra e decorar. Não é uma letra fácil. É um processo subliminar, também. Mas funciona. Tanto faz.
Paulo Ricardo - Sabe, tipo "a televisão me deixou burro demais". Isso cria uma discussão supersaudável.
Luís Schiavon - Quanto mais gente tiver informação boa na mão, melhor.

BIZZ - O disco de vocês é realmente um super LP, como vocês disseram?
Paulo Ricardo - Quem comprou o LP por causa de "Louras Geladas" e "Rádio Pirata" levou para casa um monte de informação que é uma síntese de vinte anos de rock que a gente ouviu.
Luís Schiavon - É o que a gente queria, provar que uma banda brasileira, com técnicos brasileiros, num estúdio do Brasil, podia fazer um disco tão bom como qualquer um de fora.
Paulo Ricardo - E não apenas a gente. Muitas bandas daqui são tão boas e tocáveis quanto qualquer m* lá de fora. Eles só têm a primazia porque os Beatles começaram lá.

BIZZ - O que vocês acharam da votação da crítica e dos leitores na Bizz?
Luís Schiavon - Só achei que a categoria "Instrumentista" deveria ser dividida em jazz, rock, etc.
Paulo Ricardo - Não dá para comparar Barone com Egberto, entende? Fora isto, acho muito sadio. Ficamos até surpresos com nossas classificações. E lisonjeado com a elegância (fala com pose).

BIZZ - Ganhou duplamente.
Paulo Ricardo - É. A única unanimidade. 

BIZZ - Fernando e P.A. Como vocês entraram no RPM? Vocês não se sentem um pouco em segundo plano?
Fernandi Deluqui - Eu tocava na Gang 90 e chamamos o Luís para tocar num show. Ele me passou uma fita com três músicas do RPM. Fomos ensaiar e saiu um supersom. Daí para frente rolou. Não me sinto em segundo plano. É que peguei o trem andando. Participo das composições, levo minhas idéias...
Paulo Ricardo - A gente não chega a ser Barão e Cazuza. É uma banda supercoesa.
P.A. - Eu conheci o Luís há quatro anos, por acaso. Fizemos um free de duas horas. Nunca mais o vi. Quando pintou o RPM ele começou a me ligar. Um dia, eu mesmo atendi. Nem lembrava quem era. Fomos fazer um ensaio e a primeira pessoa que encontrei foi Fernando. Conversamos como se já nos conhecêssemos há anos.

BIZZ - Paulo Ricardo, você gostaria de trabalhar no cinema?
Paulo Ricardo - Gostaria de fazer algo bem feito. Não filme de rock. Um filme da banda, talvez, a la Led Zeppelin, em show. No mais, só se fosse um papel legal. Desde que não atrapalhasse o trabalho com a banda.

BIZZ - Vocês acham que vai dar para sobreviver de música, digamos, para o resto da vida?
Paulo Ricardo - Pô! Sem dúvida!
P.A. - Para mim é uma profissão, um hobby... Acho que vou envelhecer tocando.
Paulo Ricardo - E a gente esteve em Londres, levou o disco e as pessoas não acreditaram.

BIZZ - É? Fale um pouco dessa receptividade.
Paulo Ricardo - Fomos ver como está. Achamos muito devagar. Estão completamente perdidos. Já aconteceu tudo. Nada é levado muito a sério. Até o Cult, que é cultuado por uns e ridicularizadérrimo por outros. E os darks, estão assim já incômodos. Os produtores de lá estão mais envolvidos com frescuras do tipo Arcadia... a gente até gosta. Eles se preocupam muito com o periférico. De repente o que está fazendo sucesso na Inglaterra é Billy Bragg, um Dylan dos anos 80, com calça furada e um violão de aço. Acho que a gente (Brasil) está com tudo.

BIZZ - E essa efervescência em Nova York que vocês falaram?
Paulo Ricardo - A miscigenação é muito maior. Vimos algumas coisas do Arto Lindsay, Golden Palominos, Bill Laswell. Não chegamos a conversar com eles, mas tivemos um contato com seus trabalhos. Nas técnicas de estúdio, de gravação, está rolando muita procura, mescla e ritmo brasileiro, mas muito sutil. Acho que as bandas brasileiras é que vão ter que se encarregar disso.

BIZZ - Então! Que tal as bandas brasileiras reciclarem esta raiz tão rica e temperar com o rock? Por que este menosprezo?
Paulo Ricardo - Esta é uma atitude radical, mas necessária. Depois as pessoas vão tendo menos vergonha e menos medo de absorvê-la. A gente, por exemplo, tinha aquela coisa incômoda de nunca ter atingido aquele nível de produção, aquele supersintetizador, queríamos tirar o atraso. Uma implicância, um certo confronto. Jogar com as mesmas armas. Tenho um amigo em Nova York que de vez em quando ouve o disco e diz: "Que barato". Mas lá pelo meio ele fala: "Ué? Eu não estou entendendo nada do que este cara está falando".

BIZZ - Eles sentem que é de outro lugar, pensando no som. Algo estranho, diferente?
Paulo Ricardo - Não, sentem uma identificação. Não estou querendo fazer nada folclórico. Apenas introduzir pequenos elementos.
Luís Schiavon - O grande obstáculo para a entrada no mercado estrangeiro é a língua. Não só o português. É como o espanhol. Soa agressivo para eles. Eles têm o hábito de ouvir só inglês, não têm uma colonização cultural. Se não for cantado em inglês, não penetra no mercado.
Paulo Ricardo - Tenho certeza de que a maioria desses nossos roqueiros não têm o menor pudor em cantar em inglês.

BIZZ - Algum recado para o público?
Luís Schiavon - Exija sempro original



Ficha técnica

O RPM pegou os cruzeiros ganhos nos vários shows e na venda de 150 mil cópias do primeiro LP (até março) e os converteu não em cruzados, mas em dólares. Assim munidos, embarcaram para a Europa e Estados Unidos para investir o montante em novos equipamentos.
Só no baixo Steinberger, Paulo Ricardo gastou dois mil dólares. Para o P.A., a nova bateria eletrônica da Roland, a DDR-30. Mas a novidade mesmo é o sampler, um Mirage Ensoniq que o Luís trouxe junto com outros teclados, como o Oberheim Matrix-6. Fora isso, computador rítmico Roland TR 707, sincronizado ao computador IBM-PC (que comanda os teclados), que deverá ser usado paralelamente à bateria.
O sampler, além de fechar a expansão da memória, completa o set dos teclados. E Paulo Ricardo acrescenta: "Com eles temos maior possibilidade timbrística, de pesquisar e ampliar novos sons e conseguir algo mais forte, que é do que estamos atrás".

CAZUZA


EXAGERADO

O Rio de Janeiro continua lindo... se você olhar para cima, ou de cima. Muita fumaça, muito trânsito que entram em ebulição com o cheiro de maresia, já meio acre. Mas Cazuza mora lá, e preferiu a visão de cima para baixo - uma pequena cobertura na zona sul. Do lado esquerdo, a pedra da Gávea e as montanhas, "que lembram seios de mulheres", como ele gosta de vê-las. Em frente, o Jockey Club, onde às quintas-feiras, Cazuza e seus convidados têm um espetáculo pronto -luzes, binóculos e cavalos em ação. "Veja", confidencia ele, "a primeira entrada, menos pomposa, é a da gentalha. Bem em frente. Ótimo! Os bookmakers da esquina, o pessoal da favela, todos descem, na maior função, para apostar cinco ou dez cruzados. Ali, mais para a direita, é onde entra a burguesia."
Não é à toa que ele foi morar lá. Nestas duas entradas podemos resumir a pessoa de Cazuza; aquele que entra pelo portão nobre e, depois do décimo copo, sai saltitando pelo da gentalha. É o exagerado, muito mais até do que diz a própria música. E faz disso sua arte. A preferência pelos temas agonizadamente românticos está no sangue: "Estas letras têm a ver com o pessoal que conheço, noturno, complicado que nem eu. Gosto do lado marginal da vida. Adoro ir para as biroscas, bater papo com malandros, prostitutas, pessoas que são felizes, fazem festa, mas no fundo são muito solitárias. Estou do lado dos derrotados e isso é poesia" E Cazuza vai mais fundo: "Elas não estão em conexão com nada do que está rolando e, por isso, estão mais próximas de Deus. E, também, faço meio um deboche disso tudo."
É o caso de "Exagerado", um deboche do trabalho anterior e da pretensão de Cazuza fazer uma letra meio beat. Mas aí o Zeca (Ezequiel Neves) chegou e disse: "Ora, você não passa de uma Dolores Duran". Ah! Mas você tem musas, ou não? "Muito difícil eu fazer uma letra inspirado num fato real. Tem duas: ´Mal Nenhum´ é bem minha mesmo, de uma fase que nem eu me agüentava, andava meio agressivo. E o Lobão estava parecido comigo. Compusemos a música no apartamento, jogando ovos por todos os lados, até as quatro da manhã. Chamaram até a polícia." Parênteses: todas as parcerias são mais ou menos assim. Começam numa conversa de bar e acabam de madrugada, em louca composição. "Também ´Boa Vida´ eu fiz quando estava apaixonado, ótimo mesmo. O resto é historinha que eu invento."
Outro caso real é a letra que Waly Salomão fez especialmente para Cazuza, cujos versos "Eu sou a boca do lixo na boca do luxo na boca do lixo" resumem bem seu pique. "Eu e Waly nos hospedamos num hotel na Bahia, o Méridien, que só recebe bem turista francês. Um dia, naquela displicência bem característica dos baianos, fazia quarenta minutos que eu tentava falar com um amigo e não conseguia linha. Fiquei puto, arranquei o telefone da parede e saí nu pelo corredor, gritando." O que horrorizou os hóspedes. A história continua: "Waly saiu do quarto e disse: ´Que coisa mais Antonioni. Uma pessoa nua, com o telefone na mão e ninguém ouvindo´. Daí ele fez a letra. Adorei!"
Além disso, se diz um egocêntrico, o que, aliás, motivou sua saída do Barão Vermelho. "Eles queriam ocupar um espaço maior, eu era muito pesado. Então eu disse: ´Vou à luta, fiquem com todo espaço´. Somos muito amigos. Não é uma traição. Metade do meu disco é de parceria com o Frejat e eles abrem o deles com uma letra minha. E estão a mil, como eu. O problema é que eu sempre quero ter a palavra final." Aí você foi procurar outros parceiros, não é? "Na época que nos separamos recorri ao Nico Rezende porque me senti meio sem pai nem mãe. Não toco instrumentos, componho na base da caixa de fósforos. Agora tenho um trabalho de grupo, também, mas sou o patrão. Uma coisa que eu achava horrível, mas não é. Tanto que eu e meu novo parceiro, o Rogério Meanda, estamos fazendo muita coisa boa juntos." Estão na nova banda: Rogério (guitarra), Nilo Romero (baixo), João Rebouças (teclados) e Fernando Moraes (bateria).
Da pioneira safra de grupos cariocas - Blitz, Barão, Kid Abelha - houve muitas mudanças, separações, e o pessoal procurou novas parcerias. A dúvida é se isso significaria falta de criatividade ou vontade de variar. Cazuza dá sua opinião: "São os dois. Somos uma turma. Todos os movimentos importantes na música brasileira vêm de turma. A gente pintou no começo em reação ao sucesso FM e do pessoal da MPB, virando a cara. Uma coisa meio de nos proteger. Mas não tem a ver continuar junto só porque se está fazendo sucesso. Nós, no auge dele, nos separamos. Foi por puro tesão de fazer mais. Todo projeto de arte tem que sair com tesão".
Cazuza acha ótimo cobrarem, criticarem, agulharem seu trabalho. "Que nem a gente, eu, que criticava a Rita Lee por fazer bolero, de repente. É estimulante. Gosto muito do pessoal novo do ABC, os Garotos Podres, e os de São Paulo. É uma revolta verdadeira. Até agora o protesto era meio paternalista. Eu não consigo fazer porque não vivo isso. Ia achar demagogo até." E, neste rol de preferências, ele cita o Legião Urbana como a melhor coisa que pintou nos últimos tempos e, também, o Akira S e as Garotas que Erraram, de quem adora "Sobre as Pernas". "Bom ouvir porque vai motivando a criação."
Cair na estrada e promover uma total contravenção no palco é uma de suas maiores festas. "Adoro a energia do púbico, importantíssima para mim. Nunca tive problemas em São Paulo. Lá, eles não têm vergonha de ser tiete. Aqui não, o pessoal é meio estrela. Gosto de quem vai no camarim, opina e tal. E dos que sobem no palco. Como uma vez, uma mulher, tipo lá da Mooca, que subiu com uma Xereta (aquela maquininha fotográfica). Eu cantava e fazia pose para ela."
No novo disco, que sai em setembro, Cazuza aparece mais preocupado com a própria posição e a das pessoas no mundo. Da impossibilidade do homem viver num grupo social sem brigar. É o que expressa a letra "Só Se For a Dois", que, já no título, apresenta a solução. "Só resta a convivência a dois. ´Paz na terra aos homens de boa vontade´ não existe. Este é o ponto de partida do novo LP", explica.
Agenor de Miranda Araujo Neto, vulgo Cazuza, é isso e mais. Peço uma pausa para ir ao banheiro. Lá, encontro uma boca marcada a batom na parede, com a frase "eu te amo". Logo depois chega o "avô", que solta o verbo: "Cazuza é irritante. Um prolixo que joga toda sua arte para o mundo e não regateia (risos)". Ezequiel, o "avô", diz ter renascido com Cazuza e o Barão, que também produziu. E completa: "Tenho cinqüenta anos e quero viver quinhentos para ver tudo". O "neto" rebate: "Não quero viver nem oitenta, se disso depender abdicar de todas as minhas loucuras".

Tokyo


"Tem muita gente que olha para nós e diz ´ah, esses garotos aí?´, e vem com aquele papo de que somos bem-nascidos, que só conseguimos chegar lá por causa disso." Quem fala é Supla, o vocalista do Tokyo, e o tom é de indignação. O fato é que, muito antes de estrear em disco, a banda já era alvo de fofocas e comentários - Supla até foi capa de revista. Seu pai, Eduardo Suplicy, foi candidato do PT à Prefeitura de São Paulo na mesma época em que a banda ficava conhecida. A associação era inevitável, por mais que Supla declare sua autonomia: "As pessoas falam ´olha aí o pai famoso do cara...´ Meu! Quem vai estar no palco não é meu pai nem minha mãe!"
A publicidade é boa, mas a pressão é grande. E os garotos - Bidi (guitarra), Andrés (baixo), Marcelo Z (sintetizadores), Rocco (bateria) e Supla - são muito jovens, a média é de 17 anos. Eles vêm, também, de famílias abastadas: "Ninguém aqui precisa trabalhar para ganhar a vida". Mas a seriedade com que encaram o trabalho da banda é evidente. Andrés diz que essa é até uma obrigação moral: "Eu acharia ruim se a gente, tendo a possibilidade de dedicação total, não fizesse um negócio esforçado".
No início de 85 partiram para os primeiros shows. No segundo, foram "descobertos" pelo pessoal da Sigla/Som Livre e acertaram a gravação de um compacto. O problema é que a música escolhida para estourar, "Mão Direita", foi censurada, por falar de masturbação sem disfarces. Como essa, todas as letras são diretas e simples, falando de amor, dos pais, "da nossa realidade", enfim. "Se as pessoas não se identificam, paciência", diz Bidi, que as escreve com Supla.
A contragosto e sob protestos, definem seu som como tecnopunk, o que se explica pelas influências punk de Bidi, Rocco e Supla, somadas às predileções tecnopop de Marcelo e Andrés. Mas, segundo eles, tudo é rock. No disco, entretanto, ressalvando-se o arranjo criativo de "Humanos" e as surpresas (falo delas daqui apouco), não há o elemento vitalidade, sempre embutido no conceito de rock...
O episódio da música censurada freou um pouco a rápida ascensão da banda. Depois de barbarizar no show em uma festa da CBS, mudaram de gravadora: assinaram contrato no dia seguinte. Mas, quando mostraram sua música em fita, o pessoal da CBS estranhou: "Como é que a baianinha de sei lá onde vai gostar de ´Garota de Berlim?´, mas a gente disse - o grupo é assim, a gente vai tocar assim". Deu certo. Não só a música foi incluída no LP como contou com a participação de Nina Hagen, que estava no Brasil (ela acabou caidinha pelo Supla).
No capítulo das participações especiais, aliás, eles foram bastante ecléticos. Se num lado do disco você tem a Nina Hagen engrolando umas frases em português, do outro a voz de Cauby Peixoto treme com a de Supla em "Romântica". Essas canjas inusitadas renderam mais publicidade, mantendo o Tokyo em evidência. Toda a onda em torno da banda e da figura de Supla fez com que, após o lançamento do disco, a crítica cobrasse essa notoriedade precoce, de uma maneira, digamos, pouco benevolente.
Mas o Tokyo apara os golpes e, longe de recusar a fama, quer se utilizar dela. Supla, com a habitual franqueza: "Agora que me inventaram não tem jeito - daqui para a frente depende muito da minha criatividade. Me deram a bola, muito obrigado..." O disco vende bem (dizem eles), toca no rádio, tem uma faixa incluída na trilha do filme Rock Estrela. "Humanos" virou um bom videoclip, gravado na penitenciária de São Paulo. Ou seja, a bola continua em jogo. "O Tokyo não quer ser miss...", veio para ficar. Rocco, aflito, quer dizer mais uma coisa: "Com licença, a gente precisa ensaiar".


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