Formado em 1988, o Pin Ups é o mito do rock alternativo brasileiro. Quando os primeiros discos da cena britânica chegaram ao Brasil, a banda já era assídua nos palcos do Espaço Retrô – a casa mais cult de São Paulo, administrada pelo boa praça Roberto. Porém, a história começa um pouco antes.
Em 1987, Zé Antônio e Luís Gustavo ensaiaram com duas garotas, mas desistiram porque elas tocavam muito mal. Até então denominados Bela Molnar - referência à uma personagem do filme "Estranhos no Paraíso", de Jim Jarmush - decidiram testar alguns amigos até que encontraram Marquinhos, o quinto baterista a ensaiar com a dupla. Como um trio e rebatizados como Pin Ups, tocaram pelos buracos de São Paulo, até assinarem um contrato com a Stilleto, graças à ajuda do amigo Thomas Pappon, do Fellini.
A sonoridade da banda com o nome inspirado num disco de David Bowie, destoava de tudo o que era feito na época no Brasil e a sintonia com o que havia de mais moderno na Inglaterra e nos Estados Unidos mostrava uma banda de personalidade não só nos palcos, como no estúdio.
Apesar de várias referências saltarem dos sulcos do vinil e da capa do primeiro álbum, "Time Will Burn" (1990) foi o marco inicial de uma cena que já criou gerações de bandas cantando em inglês. Na capa, o trio formado por Zé Antônio (guitarra), Marquinhos (bateria) e Luís Gustavo (vocal e baixo) apresentava um visual típico de bandas inglesas que assolariam o Brasil anos depois.
GROOVE
As canções também seguiam por esse caminho. Distorção, vocais sussurrados e um groove possibilitando dançar ao som de rock. Assim, muito antes de Primal Scream e Stone Roses, o Pin Ups já embalava a garotada com "Sonic Butterflies", "The Groover" e "Kill Myself". Como não podia ser diferente, o disco também trazia as baladas "down" (o que seria caracterizado e pasteurizado como dark no Brasil). Enquanto o Jesus and Mary Chain tocava pérolas como "Darklands’, o Pin Ups tinha "Bleed", "Hard to Fall", "These Days" e "Thousand Times".
A referência britânica ficou mais evidente em 1992, com o lançamento do projeto Gash. Um disco repleto de baladas acústicas e psicodélicas, bem antes dos irmãos Gallagher formarem o Oasis. Um disco primoroso melodicamente. Enquanto o Spacemen 3 mal era conhecido por aqui, o Pin Ups gravou um disco "viajandão" que tinha até cítara ("Ganesha"). "Most of the Time" era a sintonia com o que Sonic Boom e Jason Pierce faziam na Inglaterra. Baladas como "Candle", "Life’s Gonna Hit", "Got That Fire", "Can’t Pretend" e a regravação de "Hard to Fall" contribuíram para um status de banda idolatrada no underground.
Curiosamente, "Gash" continua muito atual. Afinal, hoje em dia, tanto no Brasil como em qualquer outro país que tenha uma mínima cena alternativa, é comum bandas com uma sonoridade lenta e melódica. Foi em "Gash", já contando com Alê na formação, que a baixista deu os primeiros passos, ou melhor, cantou os primeiros versos (na cover "A Day in the Life", dos Beatles) e, três anos depois, assumiria os vocais titulares da banda.
Em seguida, veio o disco "Scrabby?", uma guinada na sonoridade. Enquanto o primeiro álbum remetia à uma linha mais indie britânica, o segundo a algo mais psicodélico e acústico, o terceiro vinha pesado, com uma mistura de Velvet Underground, Stooges e MC5. Era o disco com a cara de Luís Gustavo. Vocais berrados e ritmos perfeitos para embalar a postura de palco do polêmico, blasé e displicente vocalista. Gravado em meio à muita briga no estúdio, o disco elevou a banda como a maior referência do meio independente brasileiro, graças à liberdade no selo Devil, por onde também saiu o quarto álbum, "Jodie Foster" (1995), iniciando a trilogia cinematográfica na discografia.
NOVA FASE
Assim que acabou a gravação do disco, Luís Gustavo deixou a banda para cuidar da família e seguir carreira na publicidade como quadrinhista. Luís nem fez o show de lançamento do disco, que foi feito com a baixista Alê nos vocais e com o guitarrista Peu na segunda guitarra. Aliás, Peu foi o responsável por uma das passagens mais curiosas na história do Pin Ups: foi dispensado por ser muito virtuoso. Ou seja, por tocar muito bem.
Com Alê à frente da banda, tanto a sonoridade quanto a imagem ganharam novos conceitos. Os vocais de Alexandra Briganti levou a banda ao bubblegum, com canções assobiáveis. Sem contar que Alê era mais simpática que Luís Gustavo, sempre disposta a bater papos com os fãs, coisa que Luís raramente fazia. Porém, Alê também "rodava a baiana" de vez em quando sem levar desaforos para casa e com uma postura anti-sexista.
Apesar de no disco Alê cantar somente uma música, "Witkin", os shows de divulgação traziam todas canções do disco de vocais gritados com uma voz doce, suave e uma banda mais alegre. Como bônus, o disco traz três músicas antigas em versão acústica.
Em 1997, o quinto álbum trazia outra formação. "Lee Marvin" foi gravado com Eliane na segunda guitarra e Fávio substituindo Marquinhos na bateria. O disco começa calmo com a bela "Weather", mas a guitarra de Zé Antônio dita o ritmo a partir da segunda faixa.
Este disco é um dos mais inspirados da discografia. "Guts" é uma das melhores canções da banda. "You Shoudn’t Go Away", "Resting Time" e "Loneliness" são dançantes e assobiáveis. Os novos integrantes colaboraram para um disco com algumas músicas com pique hard core. O disco fecha com dois bônus.
O último álbum da discografia é "Bruce Lee", lançado em 1999 para fechar a trilogia com atores de cinema. São três músicas de estúdio mais um show de divulgação de "Lee Marvin", com alguns "hits" dos álbuns anteriores.
Enquanto a banda se preparava para gravar o melhor álbum da carreira – palavras do próprio Zé Antônio – Alê decide sair e, no embalo, vão também Fávio e Eliane. Em 2001, Zé Antônio decide continuar e convida de volta o ex-vocalista Luís Gustavo. Para completar a banda, Pedrinho (ex-Killing Chainsaw) na bateria, Chuck (ex-Forgotten Boys no Baixo) e Ramon (ex-Strada) na segunda guitarra.
Com essa formação, o Pin Ups fez poucos shows e anunciou o fim durante o Circadélica em Sorocaba, em junho de 2001. Com 13 anos de carreira, a banda é a personificação do que é ser independente. Passar anos e anos tocando em buracos, gravando discos sem muitos recursos, vendendo pouco, mas sobrevivendo pelo amor à música.
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