"Eu vou retalhar suas coxas imberbes e brancas", explode Claudia Wonder para uma single girl no single bar Victória. O protesto era cabível. Afinal, Claudia não é páreo para a freguesia da paz, amor e saúde. Entranhas expostas lhe sugerem mais arte. Mas ela tem sempre as respostas na ponta da língua, para qualquer situação, qualquer palco...
Durante três anos - de 78 a 81 -, Claudia percorreu os pubs europeus, cantando o samba e o oba-oba brasileiro. "Era a única coisa que dava grana", comenta. Quando voltou ao Brasil, se viu obrigada a imitar Marilyn Monroe e Liza Minelli, apesar de seu amor por Lou Reed e Blondie. "Mas quando o tupinibrega estourou, aí tive uma chance", ironiza.
Sempre acompanhada de ótimos instrumentistas, Claudia se dedica ao vocal, letras e performance, deixando o instrumental a cargo de músicos que merecem um capítulo à parte. Alemão, que segura uma das guitarras, é, também, artista plástico. Para ele a música "tem de escapar do ouvido e ir para outro plano mais fluido... Que ela aja por feeling e não por raciocínio". Na outra guitarra, Abrão e, na bateria, Renato, dois integrantes do Kafka, banda que já chama a atenção no circuito paulista. Reka, no baixo, avisa que faz a cama para os outros viajarem.
Jardim das Delícias é o nome deste grupo, que tem Claudia Wonder cujo nome de batismo é Abrahão - como protagonista. Talvez por isso mesmo as opiniões sejam tão inversamente proporcionais - uns gostam, outros odeiam. Mas o grande trunfo é que Claudia traz para o espalhafatoso cenário roqueiro a pitada sagaz dos becos e boates mundanas. Ou, ainda, um pouco daqueles "que não têm medo do próprio cheiro".
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