Algo que falta nos trabalhos dos novos - e velhos - músicos é o ponto de partida para este grupo: o cuidado com os timbres. Melhor ainda, nas palavras de Go: "tensão de timbres".
Como se não bastasse a "originalidade" da proposta, os timbres ganham novas cores quando desenhados por essas garotas que formam o Questionário ou Bruhahá Babélico, uma questão de nomenclatura ainda no ar. Dois sintetizadores - usados ao extremo do que podem oferecer - ficam à cargo de Dequinha e Zaba (que comanda, ainda, um computador rítmico). Go segura uma guitarra renhida, com solos sutis, além de um vocal agudo e deliciosamente melodioso. Se a questão é definir, Go solta: "Um pastiche/ Raspa de tacho minimalista". Mas nada tão complicado - nem tão simples.
O emaranhado fica mais visível nas letras: "Chega de línguas vazias!", fala Go. "É o cantarolar de rua, os idiomas/ Diferentes sonoridades de línguas não existentes e a canção propriamente dita. Não é nada disso, mas aborda/ Passa por isso tudo." Exemplo típico é a letra tirada de um poema de Maria José de Carvalho: "IMOTOIMERSOIMEMOREMARMO..." Ou os poemas em inglês de Fernando Pessoa e William Blake. Mesmo em português, o timbre fonético casa, justo e certeiro, com os timbres preparados para os instrumentos: "Penso logo erro/ Penso que recupero/ Depende/ Eu penso logo peso/ Penso logo longe/ Penso e volto já/ Devendo/ Eu penso logo penso".
Para conferir, é só dar um pulo no MIS, Paço das Artes (SP), dias 13 e 14 deste mês, onde elas se apresentarão acompanhadas de orquestra, com arranjos de Felix Wagner. Aviso: um som para os amantes da música - fluida, original, tão complexa quanto a simplicidade pode ser.
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