"Serguei é um outsider do rock nacional", definiu certa vez Kid Vinil,
sintetizando a história do roqueiro que desde os anos sessenta
assombra o oficialismo das gravadoras e as regras "sociais". Nascido
Sérgio Augusto Bustamonte, em 8 de novembro de 1933, Serguei
(apelido dado por um amigo russo) beira os 70 anos esbanjando
energia, alegria e, acima de tudo, ironia. Como uma espécie de homenagem
informal, o selo paulista Baratos Afins acaba de lançar uma
coletânea com 13 músicas da longa carreira do músico.
A coletânea lançada pela Baratos Afins resgata a obra do roqueiro,
em 13 músicas que acentuam o lado psicodélico da discografia,
dando pela primeira vez a real dimensão da importância da obra de
Serguei. Além do 'folclore' em torno de sua figura, a seleção musical
de Calanca mostra um repertório de clássicos da psicodelia nacional,
com instrumental típico (com muita fuzz-guitar) e letras doidonas.
Além da ótima seleção e da produção técnica esmerada, a coletânea
vem embalada em uma capa fiel ao espírito de seu conteúdo musical.
A partir disso, a história de Serguei é um roteiro clássico '
sessentista', que envolve demissões de empregos caretas, encontros
com heróis do rock e uma discografia errática. Depois de morar nos
Estados Unidos, nos anos cinqüenta, Serguei passou por bancos, foi
comissário de bordo de diversas empresas aéreas e exerceu outras
atividades convencionais, sendo demitido gloriosamente de todos elas.
Nos anos sessenta, conheceu Jim Morrison, Jimi Hendrix e Janis Joplis,
que rendeu o folclórico reencontro no Rio de Janeiro.
Entre 66 e 67, passando ao largo da Jovem Guarda, e sintonizando a
psicodelia que explodia com o 'verão do amor', Serguei gravou '
Eu Não Volto Mais' (falando no perigo da bomba atômica),
'As Alucinações de Serguei', 'Maria Antonieta Sem Bolinhos'
(um clássico!) e 'Sou Psicodélico'. Em 69, gravou o compacto 'Alfa Centauro/Aventura', acompanhado do grupo carioca The Cougars, lançado pelo selo 'Orange', que flertava com a tropicália, mas sem perder a 'acidez' psicodélica. Em 1970, lança o compacto com 'O Burro Cor-de Rosa' e 'Ouriço', produzido por Nelson Motta, com sugestivas letras que lhe renderam alguns probleminhas com a ditadura.
Desde então, ele gravou esporadicamente, com destaque para o compacto 'Hell's Angels do Rio' e 'Ventos do Norte', com a a banda Cerebelo, lançado em 1983. No ano seguinte, vem mais um compacto com 'Mamãe Não Diga Nada ao Papai' e 'Alergia', produzido por Hernam Torres. O primeiro e único LP veio somente em 1991, depois de uma surpreendente e elogiada apresentação no Rock in Rio II. No disco, além de originais, estão covers para clássicos do rock, como 'Satisfaction', dos Rolling Stones, e uma hilária versão para 'Roll Ober Beethoven', que virou 'Rolava Bethânia'. Assim como os compactos, o LP permanece inédito em cd.
Sem saber, ou fazer disso um estilo de vida, Serguei viveu e
sobreviveu musical, cultural e existencialmente feito um anjo
pirado, à margem do rebanho, como ele diz.
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