"Agora a China bebe coca-cola, aqui na esquina cheiram cola."
Por causa destes versos a música Revoluções por Minuto, do grupo 8PM, foi proibida de tocar nas rádios. A alegação da Censura: ela incitaria o uso de drogas.
No outro lado do compacto estava Loiras Geladas. Lembra? Esta toca muito. Já tem videoclip, foi cantada no Chacrinha e também faz parte do primeiro LP da banda, que acaba de ser gravado.
O percurso não foi fácil. Se hoje o RPM tem o camarim da Pool invadido por 30 garotas de mais ou menos doze anos, à caça de autógrafos, é porque houve muita batalha.
Em maio do ano passado a banda dava seu primeiro show. Foi chamada para abrir o espetáculo do grupo pós-punk IRA na inauguração do videoclube Zoom Cósmico, em São Paulo.
Depois o grupo passou a tocar pelo circuito underground da cidade: abriu o show do Ultraje na Tífon, carregou instrumentos para tocar nas danceterias paulistas Clash e Madame Satã, levou calote de dono de bar e chegou a dar vários shows na mesma noite.
Popular e sofisticado
Em outubro as coisas começaram a mudar. A banda mandou uma fita para a CBS e concorreu por uma vaga na coletânea Rock Wave. Conseguiu e, de quebra, ainda foi aprovada para gravar um compacto.
O disco saiu e a partir daí o grupo passou a tocar pelas danceterias de São Paulo e do Rio.
"Somos uma banda rica porque cada um teve uma experiência diferente", segundo a definição de Luís Schiavon, o tecladista. "Ficamos o tempo todo reciclando informação."
Paulo Ricardo, ex-jornalista, é baixista, canta desde os sete anos e já formou várias bandas. Cansado de escrever sobre a música dos outros e, depois de uma viagem pela Europa, chamou Luís Schiavon, com quem já tocava desde 1979. Os dois começaram a compor e monta-ramo RPM.
Luís estudou 13 anos em conservatório e já tocou muito tecnopop. Acompanhava Mae East (ex-Gang 90) quando conheceu Fernando Deluq, "uma guitarra mais ou menos punk".
Esta guitarra vem do tempo em que Fernando estava no Ignose, uma banda paulista, e fazia shows no Napalm e no porão do Persona em São Paulo. Ele toca há seis anos e é parceiro de Mae East em Fire in the Jungle e Índio, músicas que acabam de ser editada na Holanda.
Em fevereiro, Paulo Pagni, que toca há muito tempo e é professor de bateria, tornou-se o novo baterista da banda. Antes do disco, gravado com computador rítmico, o RPM era acompanhado por Júnior, de quinze anos.
A banda se considera um "grupo de palco" e pretende fazer uma música que agrade tanto aos ouvidos underground do Satã, quanto aos dos ouvintes de FM e freqüentadores das danceterias: Queremos conciliar o popular e o sofisticado, temos que encontrar um equilíbrio".
FM numa boa
Mas será que depois de Chacrinha, videoclip e LP não teremos uma nova banda de FM? Eles mesmos respondem: "A gente não assumiu o padrão da moda, entramos com o nosso papel. A gente não muda, até já chegamos a ser recusados por gravadora. As armações têm tempo contado. No LP há pelo menos três músicas que se dariam bem em FM. Mas, se a gente não gostasse, não tocava".
O disco vem bem variado. Tem as músicas do compacto. Um tecnopop sobre rádio pirata, quarteto de cordas sintetizado, balada. E só conferir.